sexta-feira, 1 de agosto de 2008

>>> KOMBI NA ESTRADA

A bordo de uma Kombi, o paulistano Antonio Lino cruzou o Brasil!
O que você faria para deixar a vida mais simples? Antonio Lino, de 29 anos, largou o emprego na ONG que ajudou a fundar, a Aracati, e comprou uma Kombi, o utilitário cinqüentão do Brasil. Dentro da perua, colocou a mochila de roupas, alguns utensílios de cozinha, uma caixa de livros. E o sofá-cama, que coube direitinho no lugar do banco traseiro. Sem destino nem roteiro predefinido, com a grana do aluguel mensal de seu apartamento no bolso, Lino rodou 23 mil quilômetros e, em pouco mais de um ano, conheceu 15 estados do Brasil. Ele acaba de voltar de sua road trip - e a VT, que acompanhou tudo pela internet, reproduz alguns trechos de seu blog de bordo (dizquefuiporai.blogspot.com). Se a vida ficou mais simples? Antonio garante que sim. E a Kombi? "Não deve durar muito tempo. As vagas são bem menores por aqui."


DIÁRIO DE BORDO

9 de dezembro de 2006
Quilombo Kalunga/GO
"O Zezinho veio correndo me perguntar se era eu que morava na ambulância. Confirmei sua suspeita mostrando minha cama."

1º de abril de 2007
Abrolhos/BA
"Parti cheio de uma ânsia infantil por aventuras marítimas. Encontrei três tartarugas-verdes em reunião, comendo grama e confabulando, provavelmente sobre o sucesso de suas recentes desovas. Ou talvez (não entendo quelonês) inventando potocas sobre o budião."

29 de abril de 2007
Lençóis Maranhenses/MA
"São poucos os lugares que correspondem à própria imagem impressa no cartão-postal. Os Lençóis Maranhenses são desses idílios. Eu despencava das dunas para mergulhar no azul, no verde e, no fim da tarde, num mar quase violeta. Aí subia de novo para contemplar as linhas traçadas pela arrojada arquitetura."

28 de maio de 2007
Manaus/AM
"De Belém a Manaus, fui de barco. Uma semana de viagem subindo o Amazonas, caudal barrento prenhe de troncos e botos, margeado por floresta e caboclos. É comum que canoas venham em nossa direção, à espera de qualquer coisa que se lhes atire. Os passageiros praticam o péssimo hábito de lançar latas de alumínio."

25 de agosto de 2007
Aldeia Nova Esperança/AC
"No meio da aldeia, a madeira cavada serviu de recipiente para mil litros de caiçuma, fermentado alcoólico feito de batata e saliva. As mulheres é que mascam e cospem na preparação prévia da bebida. E, depois, são elas a servir os homens. A sobra das cumbucas é derramada sobre a cabeça dos mal bebedores. Resultado: tomei vários banhos. E um grande porre."

30 de novembro de 2007
Transpantaneira/MT
"Saciado de safári, giro 180 graus e transformo entrada em saída. É assim na Transpantaneira. A ida é, necessariamente, o avesso da volta. O pedal do meio, só no imprescindível: por obediência aos rins, respeito à idade das pontes de madeira e solidariedade a seu Gonçalo.

Agora ouço a história da onça que comeu um gringo: 'Só acharam os pés'. É mais pálido e inofensivo o Pantanal com moldura de pára-brisa."

12 de dezembro de 2007
São Paulo
"Meu pensamento vai zangar quando finalmente entender que a atual estadia não é provisória. Não admitirei luto: a viagem morre como rotina, mas permanece em mim como pulsações."

RAIO X DA KOMBI

Ano de fabricação: 2006.
Motor: 1.4 flex. Na gasolina, 10 km/l.
Acessórios: adesivo na lataria, patuás (terço e uma imagem de Buda) no painel. Para dormir, fez falta um ventilador.
Limite: 100 km/h. E ainda precisa aprender o "jeito certo" de fazer as curvas.
Custo da viagem: R$ 800 por mês.
Pior estrada: BR-324 (86 km de buracos para a Serra da Capivara, no Piauí).
Acidente de percurso: em 18 de maio, Lino e sua Kombi tombaram no Maranhão. Ela ficou três meses no conserto. Ele seguiu, de barco, para a Amazônia.


Por: Cris Capuano | Foto: Arquivo pessoal
Matéria publicada na Revista Viagem e Turismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário