quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

>>> HERÓIS DO PASSADO

DKW Candango: De concepção militar, ele era resistente e ao mesmo tempo confortável para um utilitário.
Os carros alemães são conhecidos pela sua funcionalidade. Também a mecânica confiável, o conforto e o baixo nível de ruído são características encontradas nos teutônicos. E pede a tradição que essas qualidades sejam embaladas para presente, com um design limpo e clássico. A origem do nosso Candango não segue exatamente essa cartilha. Funcional e confiável ele era. Tanto que, em 1954, na Alemanha, seu projeto venceu uma concorrência para a fabricação de um utilitário leve para as Forças Armadas. Precisou derrotar até o plano da Porsche. Mas é certo que não foi sua beleza que o empurrou no início de carreira. Tampouco o barulhento motor dois tempos deve ter convencido os comandantes. E o que dizer do nome? Munga! Não, não é uma espécie de fortes gorilas africanos. Munga é a combinação das iniciais das palavras do que em alemão designaria um veículo militar leve com tração integral. Determinantes mesmo foram o baixo custo de produção e a manutenção fácil do carro apresentado pela Auto Union, que passou a ser produzido dois anos depois.


Por aqui o utilitário começou a ser fabricado - ou, mais propriamente, montado pela Vemag - em 1958. Completava, ao lado do sedã e da perua, a linha DKW e compartilhava com eles o motor dois tempos de três cilindros. Foi apresentado como Jipe DKW mas teve de ser rebatizado logo em seguida, uma vez que Jeep e suas variações eram marca registrada da concorrente Willys Overland. Assim, o utilitário recebeu o nome de Candango, uma homenagem aos trabalhadores que construíam Brasília, futura capital do país.

Como o nome sugeria, o Candango tinha um apelo desbravador. Poder engatar a reduzida com o carro em movimento era um salvo-conduto nas estradas de então. Os anúncios afirmavam que era capaz de atravessar cursos d'água de até meio metro de profundidade, graças ao distribuidor protegido e à carroceria blindada. Opa! Não pense que ele era à prova de bala. Apenas seu motor tinha um isolamento inferior que impedia a entrada de água. Bons tempos. Para falar verdade, ele era mais que vulnerável: vinha equipado com uma devassada capota com janelas de plástico de enrolar. Quem quisesse capota de aço tinha que encomendar como opcional.

Um autêntico fora-de-estrada, o Candango agradou também aos jovens das cidades, ajudado pela suspensão independente nas quatro rodas que o tornava mais confortável que seu concorrente, o Jeep Willys. Pensando nesse público, a Vemag fez o Candango 2, com tração exclusivamente dianteira. Mais leve, o jipinho ganhou em desempenho com novo carburador.

Não é difícil entender a simpatia urbana por ele. O Candango é divertido. Entrar nele é fácil, desde que se use o estribo. Afinal, são 24 centímetros de altura livre do solo nos eixos e 32 no centro do chassi. A partida é dada por meio de um botão do lado esquerdo do grande volante de empunhadura fina. No painel o motorista tem à sua frente a alavanca da reduzida em forma de "T". Com um longo movimento do braço, engato a primeira e ouço o motor subindo de giro. Bastante curta, mesmo no modo longo, essa marcha só é usada por poucos metros na saída.

Vem daí a sensação de que o Candango não vai passar dos 40 km/h. Mas, à medida que se trocam as marchas - mantendo a rotação do motor mais alta, como gosta de trabalhar um dois tempos -, o jipinho vai ganhando velocidade. Aos 75 km/h, em quarta, tudo o que os passageiros podem fazer é observar a paisagem, já que não é fácil competir com o motor na base do grito. Com o pé no fundo, ele deve chegar aos 95 km/h.

O manejo da direção é leve, auxiliado pela pouca área de contato com o solo dos pneus tipo "militar". Mas não conte com a ajuda deles num dia de chuva: segundo a experiência de Helio Dacunha, proprietário do modelo 1958 que você vê nas fotos, a um chamado mais enérgico do pedal do freio, o jipe tende a ignorar as ordens do comando, deslizando por vontade própria.

Eclético, o Candango podia ser visto puxando arado na roça ou parado na frente de faculdades, com a capota abaixada. Seus admiradores juram que ele se equilibra em três rodas em caso de pneu furado. Mas essa versatilidade teve vida curta. Devido ao alto preço dos componentes importados de sua transmissão, o jipinho DKW deixou de ser competitivo e sua fabricação foi interrompida no início de 1963. Foram fabricados ao todo 6171 modelos Candango.

* texto: Sérgio Berezovsky / fotos: Marcelo Spatafora
Matéria publicada na Revista Quatro Rodas - Setembro/2002.

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