quarta-feira, 27 de maio de 2009

>>> HERÓIS DO PASSADO

- TEMPO MATADOR -
Construído por uma empresa de Hamburgo com motor VW, o Tempo Matador tornou-se adversário de seu fornecedor.
Em novembro de 1949, antes mesmo que a VW colocasse nas ruas seu Type 2 (a nossa querida Kombi), um fabricante hoje conhecido por poucos, lançava na Alemanha um utilitário muito similar em proposta e com a mesma mecânica, embora diferente em concepção. A empresa Vidal Und Sohn (Vidal e Filhos, em português), de Hamburgo, era líder de mercado entre os furgões comerciais de três rodas, e com o novo modelo, atendia a uma intensa demanda por veículos leves de trabalho, ideais para ajudar o país a se reconstruir depois da Segunda Guerra Mundial.


Com o curioso nome de Tempo Matador 50, o utilitário foi o único modelo produzido em série com motorização VW arrefecida a ar e autorizado pelo gigante de Wolfsburg, mas não vendido por sua rede de concessionárias. Era oferecido nas versões pick-up e furgão, este com teto normal ou elevado, sempre com as portas articuladas para trás, as famosas “suicidas”. Seu estilo era um tanto estranho, pois o volumoso tanque de combustível ficava bem na frente, sob o pára-brisa bipartido (!). A questão de segurança em caso de colisão cria uma inesperada explicação para o nome Matador... Os faróis alojados como se fossem olhos e a pequena área envidraçada contribuíam para o aspecto diferenciado do modelo.


Por dentro, era um veículo estritamente de trabalho. Sentados sobre o eixo dianteiro, motorista e passageiro ficam em posição semelhante à da própria Kombi. O painel resumia-se a um velocímetro, com utópica escala até 120 Km/h e a algumas luzes-piloto. O que não se parecia com o modelo da VW era a posição do motor, localizado sob o banco dianteiro, que se basculava para acesso e manutenção. Era o mesmo 4 cilindros boxer de 1.131cm3 e potência máxima de 25cv então usado no Fusca, com caixa de câmbio ZF de quatro marchas e tração dianteira.


Também ao contrário da Kombi, o Matador não usava estrutura monobloco. A carroceria vinha sobre o chassi, composto de duas vigas de seção circular unidas nas extremidades. A suspensão dianteira usava um feixe de molas semi-elíticas transversal, e a traseira, duas molas helicoidais em cada lado. Os freios eram a tambor e as rodas mediam 16 polegadas de aro. Motor à parte, a própria empresa fabricava a maior parte dos componentes do veículo. Devido a distribuição de peso, retirando-se uma das rodas traseiras ele se mantinha nivelado e podia até rodar em pisos planos (sem carga, é óbvio). A capacidade de carga era de 1.000kg.

O utilitário da Tempo chegou a ser exportado para a Austrália entre 1950 e 1952, com volante à direita, antecipando a estréia da Kombi naquele país. No total, porém, o volume de produção com essa mecânica – 1.362 unidades até maio de 1952 – é bastante modesto se comparado ao da Kombi, que em pouco tempo dominou o mercado, deixando muitos concorrentes para trás. Com isso, a VW não tinha mais interesse em fornecer seus motores para a concorrência, obrigando o Matador a procurar outras alternativas.


A primeira tentativa foi com a empresa JLO, adaptando um 3 cilindros em linha de 26cv. A versão era chamada de 1000, em alusão à capacidade de carga. Problemas na qualidade, porém, levaram à uma rápida substituição pelos motores da Heinkel, o que incluiu a troca em garantia dos utilitários já vendidos com o propulsor anterior. Para marcar o abandono da VW, a Tempo realizou uma curiosa reestilização frontal, em que os faróis desciam e os frisos horizontais subiam, invertendo suas posições. Com o mesmo desenho e maior cilindrada, a versão Matador 1.400 surgia em setembro de 1952, usando um motor Heinkel de 4 cilindros em linha com 34cv, transportando agora, 1.400kg de carga, graças ao chassi reforçado.

Essa variação era substituída no final de 1955, ano em que a Vidal vendia 50% da empresa à também alemã Hanomag. A injeção financeira permitiu o desenvolvimento de uma nova carroceria para o então denominado Matador I, com maior área envidraçada, pára-brisa inteiriço e portas normais. Na frente remodelada não se via mais o tanque, agora em posição mais segura. E apesar da grade inferior, o utilitário estava mais parecido com a Kombi do que nunca. Esta configuração foi mantida por um ano.


No modelo para 1957 era adotado o motor do Austin A50 inglês, com 4 cilindros em linha de 48cv. O desempenho estava melhor, a ponto de aumentar a carga útil para 1.500kg no ano seguinte. O Matador foi assim produzido até 1963, quando aparecia a versão E, com estilo mais atual e agradável. A ampla grade ficava entre os faróis e as luzes de direção e havia diferentes opções de capacidade de carga, entre 1.000 e 2.500kg. O motor Austin passava a contar com 54cv e surgia pela primeira vez uma opção a diesel de 50cv. Em três anos a empresa produziu 47.362 unidades, de longe o mais bem sucedido da série.


O nome Matador acabava em 1966, mas não a carreira do veículo. Com a aquisição do controle acionário da Hanomag pela Mercedes-Benz, em 1969, um motor a diesel de 55cv da marca da estrela passava a equipar os utilitários, chamados agora de Mercedes L206 D e L306 D, conforme a capacidade de carga, sendo produzidos até 1978, quando então, a lenda Matador e seus derivados se perde no tempo, sendo atualmente, somente lembrada por colecionadores e aficionados.

* Fabrício Samahá/BestCars.

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