quinta-feira, 10 de maio de 2012

>>> ÍCONES BRASILEIROS

Com o fim do estoque nas concessionárias, é hora do adeus definitivo para os modelos Ford F4000 e Mercedes-Benz 710, dois grandes ícones brasileiros no segmento de caminhões leves

Nem todos vão se lembrar e muito menos estarão ligados nisso, mas quando as badaladas do “Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo”, ecoaram à meia noite do último dia de 2011, não existiu ano novo para dois mitos do transporte urbano no Brasil. Com a chegada do padrão Euro V a partir do dia primeiro de janeiro de 2012, Ford F-4000 e Mercedes-Benz 710 foram oficialmente descontinuados de suas respectivas linhas de produção. A Ford não fez nenhum anúncio sobre o fim da famosa e lendária Série F, ao contrário da Mercedes, que divulgou vasto material contando a história industrial do Lázaro, apelido carinhoso do Mercedinho 710.


Retirar do mercado um caminhão como o F-4000 que, apesar da idade tem seu público cativo, é uma decisão corajosa, mas a equação era mesmo econômica, por conta dos custos muito altos de produção de sua última geração. Com a saída do modelo, a empresa, além de perder vendas, abriria de graça espaço para os concorrentes, justamente no momento em que a concorrência se armava com muitas novidades.

História

A linha F nasceu no Brasil em 1957 com o modelo F-600, um caminhão tipicamente estradeiro para a época e que foi muito usado na construção de Brasília, puxando carga de São Paulo. O motor era um V8 a gasolina, de 4,5 litros, que foi usado nos caminhões da marca até 1977. Em 1971, a Ford já comemorava a produção de 200 mil unidades do modelo. A linha vinha crescendo com a picape F-100 e a F-350, mas a grade novidade veio em 1975, com o lançamento dos caminhões médios F-400 e F-4000, de maior capacidade, maior plataforma de carga e suspensão dianteira independente, do tipo Twin-I-Beam. O motor, um MWM D-226-4 a diesel.


A linha F começou a ficar mais profissional e “estradeira” a partir de 1977, com a chegada dos modelos F-7000 e FT-7000, este último com terceiro eixo de fábrica. A família também contava com os modelos F-8000 e FT-8000, além do cavalo mecânico F-8500, capacitado para 30,5 toneladas de peso bruto total combinado. O motor era um Detroit Diesel 6V. Um ano depois, veio o motor MWM, que passa a puxar também os modelos da linha 7000.


A história da linha F sempre foi marcada pelo lançamento e descontinuação de modelos intermediários. Um deles foi o F-2000, com motor Diesel MWM D-299-4, freios dianteiros a disco, e capacidade para duas toneladas de carga útil e opção de direção hidráulica. Com o lançamento do modelo Cargo em 1985, a linha F ficou para segundo plano mas, apesar da sua cabine ultrapassada, sempre teve sua fatia de mercado no transporte urbano.


Em sua fase final, os médios da série F tiveram um design tão estranho que acabou rendendo o apelido de sapão. Mas o F-16000 sumiu rápido, logo seguido pelo F-12000 e F-14000, em 2006. Sobravam os pequenos. Até agora. O F-4000, particularmente, deixa uma história com mais de 150 mil unidades vendidas. Ao longo de sua história, a linha F acumulou aproximadamente 570 mil unidades produzidas.

MB 710

A história do Mercedinho tipicamente urbano começou em 1972, com o 608D, o primeiro modelo na categoria dos leves da Mercedes-Benz. Na época, o modelo chegou trazendo inovações, como a cabine semi-avançada, o que ampliava a plataforma de carga. Essa era uma vantagem considerável, pois os concorrentes eram quase todos derivados de picapes que usavam cabines convencionais.


Em toda a sua história de vida o modelo passou por quatro atualizações. A primeira veio em 1987, quando teve sua capacidade de carga ampliada e o nome subiu para 708 E. Um ano depois, a cabine foi reestilizada, ganhando a aparência que mantém até hoje e também foram incorporados melhoramentos como o freio a disco nas rodas dianteiras. O 708 E também foi base para um modelo ligeiramente maior, o 914,que inaugurou o segmento de nove toneladas.

Concorrendo sempre na faixa de entrada, quase nada mudou no desenho da cabine, mas o urbano da Mercedes ganhou inovações tecnológicas, como o motor com intercooler em 1992. O aumento de potência para 120 cv elevou o nome para MB 712. Quatro anos mais tarde voltou a se chamar 710, por conta do motor turboalimentado. Com as vendas em queda, o modelo chegou a ser retirado da linha de produção em 1998, mas voltou um ano depois por exigência do mercado. Após essa recaída, recebeu melhoramentos como sistema de freios pneumáticos (2002) e a adequação para atender a legislação do CONAMA P5 (Euro III), em 2006.

O Mercedinho foi, por vários anos seguidos, o caminhão mais vendido do Brasil e, somando todas as suas versões, encerra seus 40 anos de história totalizando 183.626 unidades vendidas. “O Mercedinho é dinheiro em caixa e pau para toda obra”, diziam seus usuários.


O espaço deixado pelo MB 710 será preenchido pelo modelo Acello 815. Lançado em 2003, o produto novo (então chamado 715) chegou a provocar a suspensão da produção do Mercedinho por uns três meses. Sua missão, a médio prazo, era exatamente substituir o 710, mas o tiro saiu pela culatra e, como as vendas não decolaram, sua produção desde 2009 passou a ser feita apenas sob encomenda. Com a terceira aposentadoria do 710, agora definitiva pela impossibilidade técnica de adaptação ao padrão Euro 5, o Acello volta à tona. A geração do 710 encerra sua carreira com 183.626 unidades vendidas. O 608 D representou o maior volume – 82.551 unidades.

* André Gomide/Jornal Veículos.

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