A Kombi e seus apaixonados de todos os estilos, da ferrugem à customização
Prestes a sair de linha após seis décadas de história, a carismática Kombi ainda motiva atitudes apaixonadas dos entusiastas do modelo que transita do útil "pau-para-toda-obra" ao cult, ao vintage ou a qualquer outro termo mais sofisticado.
O engenheiro agrônomo Leonardo Pires Ramos, de 39 anos, de Piracicaba (SP) é um desses apaixonados que, depois de comprar e customizar totalmente um exemplar de 1972, decidiu montar há cerca de três meses a Kombinado Eventos, uma empresa de locação da perua para casamentos e festas em geral. Tudo para manter sua Kombi em circulação e em perfeitas condições de uso.
Antes de cair nas mãos de Ramos, a Kombi era usada no transporte de pedreiros e estava bastante deteriorada. "Comprei e decidi dar uma aposentadoria a ela", brinca o agrônomo, que deu rodas personalizadas, motor modificado com injeção eletrônica e trocou a cor original azul-diamante pela vibrante combinação de preto e laranja, que lembram o emblema das motos não menos famosas Harley-Davidson.
A "aposentadoria" a que ele se refere é basicamente o transporte de noivas no dia do casamento, além de participações em exposições de carros antigos e, é claro, o uso próprio em dias de folga. "É muito divertido. A gente passa com a Kombi as pessoas olham sorrindo, parece que estão se lembrando de alguma boa história que viveram com uma dessas", afirma Ramos.
E o hobby-barra-trabalho não é barato, além do custo com a reforma e modificação do veículo (o valor o agrônomo pediu para não ser divulgado), há ainda gastos normais com peças que, pelos preços, às vezes compensa mais importar. "Tem peças que no Brasil se paga R$ 800 e nos Estados Unidos se acha até por R$ 150", compara.
No Embalo
A Kombi laranja e preta de Ramos não é a única na família a gozar da mesma aposentadoria, digamos, festiva. O agrônomo, na verdade, comprou a perua "no embalo" do irmão, o administrador de empresas Guilherme Pires Ramos, de 45 anos. O exemplar 1973 do mais velho, porém, não é esportivo, mas clássico. É um típico modelo branco e azul-claro de "saia e blusa", como são conhecidas as versões em duas cores.
Guilherme se tornou um "Kombi lover" quase que por acidente, por um plano que não deu certo. "Comprei a Kombi e reformei para dar para minha filha, para ela grafitar e colocar sofá dentro, aquelas coisas. Mas ela acabou indo morar no exterior e eu acabei me apegando à perua", conta o administrador. O carro dele também é usado para transportar noivas.
Estilo Rato
Os tipos de colecionadores da "Kombosa" não se limitam ao esportivo e ao clássico. Quem ama a perua sessentona da Volkswagen ama no luxo e na pobreza, na pintura reluzente e na ferrugem. Pelo menos este é o conceito por trás do rat look, ou aparencia de rato, numa tradução livre do estilo que nasceu nos EUA e já tem adeptos no Brasil. A regra neste caso é deixar o veículo envelhecer ao natural ou até "fabricar" um visual velho, enferrujado, quase podre, desde que o motor esteja funcionando bem.
O auxiliar administrativo Thiago Crivellari, de 23 anos, tem uma Kombi rat. "Rust is not a crime" --ferrugem não é crime--, resume a impressão na lataria detonada do modelo 74 do jovem. "A ideia é valorizar o que está por dentro. Meu carro vai onde qualquer outro vai e o que dá valor a ele é o jeitão aparentemente apodrecido, mas que funciona", conta Crivellari.
Ele tinha um Fusca com a mesma característica "rústica", mas decidiu trocar por uma Kombi por acreditar que o desafio do colecionador é maior com a perua. "A brincadeira fica maior, não é tão fácil encontrar peças", justifica o auxiliar administrativo.
* Araripe Castilho/Porta G1.
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