>>> FAZENDO ARTE

Artista mora há 13 anos em um trailer só "fazendo arte"

Morar em um trailer pelos bairros de Curitiba, fazendo das ruas o atelier onde cria as obras que são o seu ganha-pão. Esse é o estilo de vida escolhido pelo artista plástico Itamar Gonçalves. Aos 63 anos, ele já conta mais de quatro décadas “fazendo arte”. Uma trajetória que começou com histórias em quadrinhos (HQs) e continua nas telas expostas em muros e calçadas da cidade. Encontramos Itamar em uma rua do Bacacheri, cercado por quadros e ao lado de sua casa, uma Kombi Safari Karmann Ghia, ano 1986. “Já faz 13 anos que levo essa vida itinerante e vivendo de arte, o que no Brasil não é nada fácil”, conta.

Itamar nasceu no interior de São Paulo, veio para Curitiba aos cinco anos de idade, mas começou a carreira artística no Rio de Janeiro. “Morei dez anos lá e comecei a fazer histórias em quadrinhos nas revistas da Rio Gráfica Editora (RGE). Eram personagens infantis, como Vaca Voadora, Comix e Sítio do Picapau Amarelo”, recorda. A experiência com os quadrinhos o trouxe de volta para Curitiba no final dos anos 70. “A RGE fechou e como aqui tinha a Grafipar, que fazia muitas revistas, eu voltei. Quem me convidou foi o diretor de arte, que era o Cláudio Seto”, ressalta, lembrando o conhecido samurai das HQs e ex-colaborador da Tribuna do Paraná, falecido em 2008.

Na Grafipar, Itamar participou da criação e produção de revistas de várias revistas de quadrinhos adultos, como a “Maria Erótica”, um dos personagens mais populares criados por Seto. Mas a editora paranaense também não durou muito tempo e ele se viu desempregado. “Daí eu conheci um pessoal que pintava no calçadão da Rua XV e ali comecei com as telas, em 1980, e continuo até hoje”.

 

Nos quadros atuais, Itamar aborda os mais diversos temas. “Pinto de tudo: paisagem, flores, retratos, cachorros, avião e até mulher pelada”. Mas são nos quadros que retratam carros antigos em que ele junta duas paixões. “Comprei essa Kombi recentemente e com ela participo de encontros de colecionadores. É lá que encontro os meus principais clientes”, revela.

 

Hoje em dia, o artista circula mais pelas ruas da região do Bacacheri. “Antes eu viajava bastante, mas está muito caro e inseguro pegar a estrada. Ficando por aqui eu vendo um pouco menos, mas fico mais tranquilo. Já levei muito susto rodando por aí”. Além dos negócios fechados na hora, ali mesmo na calçada, Itamar pinta por encomenda. “É só trazer uma foto que eu faço”. Ele diz que vende cerca de 30 quadros por mês, no valor médio de R$ 100. “Dá para sobreviver. Hoje em dia, a grande maioria dos artistas ganha apenas o suficiente para comer. Mas como é isso que eu gosto de fazer, o dinheiro é só um detalhe”, afirma. Quem quiser entrar em contato com Itamar para comprar ou encomendar um quadro pode ligar direto no seu celular: (41) 9881-9550.

* Cahuê Miranda e Allan Costa Pinto/Paraná Online.