A curta trajetória da Kombi 4x4
A Volkswagen começou a brincar com tecnologia de tração nas quatro rodas durante a Segunda Guerra Mundial, com veículos como o Tipo 128 Schwimmwagen. Os experimentos dos primeiros dias foram em grande parte esquecidos quando a empresa começou a produção em massa do Fusca. E até mesmo o modelo Thing foi oferecido exclusivamente com tração traseira quando foi apresentado ao público americano em 1968.
Gustav Mayer, o chefe do departamento de engenharia da Divisão de Veículos Comerciais da Volkswagen, nunca se conformou com a vida curta dos projetos off-road da marca . No início dos anos 70, durante algumas viagens com seu automóvel, muitas vezes desejou um eixo dianteiro poderoso e um par de polegadas extras para ganhar altura em relação ao solo. Ele sempre comentava sobre isso com o colega de trabalho Henning Duckstein e os dois finalmente começaram a desenvolver o primeiro projeto 4x4 da Volkswagen em anos, já em 1975. E o modelo escolhido foi a Kombi, que parecia perfeito para receber a adaptação idealizada por eles. O projeto ainda não tinha sido apresentado à cúpula da Volkswagen, já que os dois engenheiros intrépidos queriam acertar todos os detalhes antes de colocar o veículo em produção. A Kombi era construída e testada durante o tempo livre, usando qualquer parte que poderiam ter em suas mãos dentro da fábrica.
O Franken-Bus
A Kombi 4x4 conseguiu melhor acerto com um motor 2,0 litros de 70 cv a 4.200 rpm, refrigerado a ar. Foi acoplado a uma transmissão semiautomática, semelhante em design e funcionalidade à unidade automática que foi oferecida no Fusca, o que significa que as engrenagens eram deslocadas manualmente, mas uma adaptação eliminou a necessidade de um pedal da embreagem. Sob condições normais de condução, a energia era enviada para as rodas traseiras, mas uma alavanca montada no interior da cabine permitia ao condutor usar o diferencial dianteiro mesmo em movimento.
A instalação de um eixo sob o assoalho da frente exigiu várias modificações e todo o sistema de aquecimento teve que ser repensado. A suspensão foi atualizada para tarefas off-road e componentes mecânicos vitais da Kombi estavam protegidos por espessas chapas na frente e atrás. O tubo de escape foi integrado no lado do para-choque traseiro e o para-choque dianteiro foi levantado cerca de 8 cm, dando ao veículo um ângulo de entrada de 30,5 graus e um ângulo de saída de 22,5 graus. A distância do solo foi aumentada com o uso de rodas de aço de 16 polegadas montadas em pneus de perfil alto. Ao mesmo tempo em que os pneus ajudaram a Kombi a atravessar com facilidade aproximadamente 50 centímetros de água, eles exigiram um alargamento das caixas de roda.
A Kombi off-road alcançou 100 km/h em 36 segundos e atingiu uma velocidade máxima de 120 km/h durante a condução em uma estrada pavimentada. Embora a maioria das Kombis na época fossem equipadas com discos de freio dianteiros, os modelos de tração nas quatro rodas utilizavam tambores para conseguir boas frenagens. Curiosamente, o freio de mão podia ser aplicado de forma independente para ambas as rodas traseiras.
Tarde Demais
Pintado em vermelho e branco, o primeiro protótipo de tração nas quatro rodas foi enviado da Alemanha para a Argélia, em dezembro de 1975, para que Mayer pudesse testá-lo no deserto do Saara durante as férias com sua família. O câmbio ainda estava longe de ser perfeito, mas a capacidade off-road da Kombi era nada menos do que impressionante, segundo palavras do próprio Mayer.
O CEO da Volkswagen na época, Toni Schmücker, não gostou muito da ideia de gastar tempo e dinheiro no projeto dos colegas e exigiu o cancelamento dos trabalhos no início de 1976, mas Mayer e Duckstein pressionaram o chefe e construíram vários outros protótipos independentes. Alguns documentos dos arquivos da Volkswagen indicam que, oficialmente, um total de cinco Kombis 4x4 haviam sido montadas até 1978 – incluindo pelo menos um modelo Westfalia. Os modelos foram sumariamente ignorados pela direção da empresa, que estava lidando com assuntos mais urgentes, incluindo a redução de custos de produção em um ambiente competitivo.
De acordo com um artigo publicado pela revista alemã Westfalia Register, a única vez que a Volkswagen mostrou oficialmente um dos protótipos foi em 1978, quando o exército da Alemanha Ocidental sondava comprar um veículo barato e com tração nas quatro rodas. Apesar de o projeto demonstrar ter capacidade, as negociações não progrediram e a luz verde para a produção foi negada mais uma vez.
Talvez se tivesse sido apresentada ao CEO da Volkswagen uma década antes, a Kombi 4x4 provavelmente teria sido adicionada à programação como um modelo de produção regular. O problema é que, no final dos anos 70, outras montadoras já dominavam a área com produtos mais sofisticados e com desempenho superior, o que desanimou os engenheiros alemães. Além das razões financeiras, nessa época a empresa com sede em Wolfsburg estava dando os toques finais na Vanagon (substituta da Kombi) e tinha muito pouco interesse em lançar mais uma variante da já envelhecida Kombi Clipper.
O projeto então foi definitivamente arquivado e o que aconteceu com os protótipos não é conhecido. Eles nunca foram vendidos e a maioria provavelmente foi desmantelada, embora uma sobreviveu e está em exposição no museu Volkswagen.
Mayer e Duckstein conseguiram realizar o sonho de ver um Volkswagen 4x4 em 1985, quando a Volkswagen introduziu no mercado a Vanagon Syncro. Desenvolvida com a colaboração da empresa austríaca Magna Steyr, a Vanagon Syncro era completamente diferente do que foi projetado inicialmente para a Kombi 4x4, mas muitas ideias foram aproveitadas e o modelo teve um bom desempenho até o fim de sua produção, em 1992, para dar lugar à Eurovan.
* Kombi & Cia.
Lembro de ter andado em uma kombi 4x4 aqui no Brasil.
ResponderExcluirIsso era inicio da década de 80, na empresa que fabricava o jipe Jeg.
A Dacunha tinha uma area de testes na fabrica e eu e meu antigo chefe fomos convidados a andar nela.
Talvez se pesquisarem podem achar o protótipo por aí...
Luiz Carlos Zambone
Projetista da Puma entre 1980 e 1982.
A questão do freio de mão ser aplicado individualmente servia para quando uma roda perdia tração, aplicava-se o freio nessa roda o que transferia a força para o roda oposta... funcionando como uma especie de bloqueio de diferencial... os gurgel x12 saíram com o mesmo mecanismo.. "SELECTRATION"
ResponderExcluirÉ isso mesmo Bruno . Os Gurgels saíram com esse dispositivo. Eram duas alavancas junto com a do freio de mão .
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