quarta-feira, 2 de maio de 2018

>>> NA LABUTA


Chevrolet C-20 de 1991 soma 27
anos de labuta no Metrô de São Paulo

Em uma sociedade acelerada que só quer o jovem e o moderno, trabalhadores e máquinas tendem a ser postos para escanteio depois de certa idade. Manter-se relevante após 27 anos de empresa não é para qualquer um. Pois essa é a proeza de uma Chevrolet C-20 que vem prestando serviços ao Metrô de São Paulo desde 1991.


Chamada internamente pelo seu número de frota, “125”, a picape não tem um dono só: pertence a um departamento da companhia e é mantida e usada por diversos funcionários, dentro e fora das dependências do Metrô. Um deles é o oficial de manutenção industrial Eduardo Pavão.


“No Pátio Jabaquara, ela leva as equipes que fazem a manutenção dos trilhos e também os equipamentos e ferramentas para os reparos”, ele explica. “Mas também roda nas ruas, transportando funcionários ou prestando socorro mecânico a outros veículos do Metrô. E ainda viaja a Itatiba, no interior paulista, para buscar material ferroviário em um fornecedor.”


Quando um carro não serve mais para o trabalho, ele é desligado da frota e levado a leilão. O Metrô, inclusive, já incorporou diversos modelos mais recentes, como Fiat Ducato e Citroën Jumper. Mas essa C-20 resiste bravamente: é a picape mais antiga e o segundo veículo mais longevo da frota – o primeiro é um caminhão Chevrolet C-60 de 1976, em vias de ser leiloado.


O que blinda a veterana “125” contra a aposentadoria forçada são duas virtudes que tornam qualquer funcionário muito requisitado: disposição para o trabalho e versatilidade. Especialmente quando é preciso carregar os dormentes sobre os quais os trilhos se assentam.


“Dificilmente se consegue um modelo mais novo com capacidade de carga suficiente para transportar esse tipo de material”, conta Pavão. “O chassi da C-20 é impecável. Ela carrega até cinco dormentes de uma vez sem sofrer abalos em sua estrutura.”


A companhia até possui veículos maiores, como caminhões, mas eles enfrentam restrições de tráfego em determinadas zonas da capital paulista. “No centro expandido, eles só podem circular em vias e horários específicos. A C-20 não enfrenta esse problema e consegue atender todas as demandas”, diz o técnico.

Carinho

Dos funcionários do Metrô, a “125” recebe o carinho típico daquele colega de trabalho veterano que dedicou a vida à empresa. O próprio Pavão não lhe poupa elogios. “O conforto da C-20 é difícil de encontrar. Se viesse uma nova geração com ar-condicionado e ABS, seria espetacular. O motor seis-cilindros, o mesmo do Opala, é ágil e macio. E não é gastão, pois passa por manutenção preventiva rigorosa.”


Os cuidados à C-20 são prestados por uma equipe de 12 profissionais do Metrô, entre mecânicos e eletricistas, com peças compradas em concessionária. “É bem mais fácil mexer em carros antigos”, compara Pavão. “Os novos não têm espaço no cofre (do motor), e às vezes é preciso desmontar toda a dianteira para fazer um reparo.”


Um dia, certamente chegará a hora de a “125” se despedir do Metrô. “Será uma perda, pois não haverá como substituí-la”, diz Pavão. “Mas, enquanto ainda conseguirmos peças, ela continua na nossa frota.”

* Thiago Lasco/Jornal do Carro.

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