domingo, 20 de fevereiro de 2011

>>> PERUAS (OU QUASE...)

Perigosas Peruas: Conheça alguns modelos derivados de históricos cupês!
Em tempos de correção política, alguns hábitos ficam no passado, enquanto outros resistem pela força do charme. Não faltam exemplos, como os tabagistas que defendem o prazer dos charutos, ou dos que veem na caça um nobre esporte. E é justamente para esse segundo grupo que surgiram as chamadas shooting-brakes. O nome composto tem explicação: shooting (ou caça com arma de fogo) porque eram utilizadas para carregar armas e brake vem das antigas carruagens de carga. Diferentemente das peruas baseadas em sedãs familiares, as shooting-brakes são derivadas de cupês.


Sem perder em desempenho, esses esportivos podem levar algo mais volumoso, sejam espingardas ou equipamentos esportivos de golfe ou polo. Sem despertar polêmicas, o estilo ganhou força com a Ferrari FF, que mescla as linhas de um cupê com o teto prolongado dos hatches.


A FF não é a primeira da marca, que já tinha visto seus modelos serem convertidos ao gênero por encarroçadores. A holandesa Vandenbrink criou, em 2008, o 612 Scaglietti Shooting Brake. A empresa não deixa de citar que, além de poder modificar o interior para acomodar equipamentos de caça, pode adaptá-lo a outro passatempo nobre: a falcoaria, ou a arte de treinar um falcão.

A Pininfarina chegou a criar sob encomenda do sultão de Brunei, Hassanal Bolkiah, cinco unidades da 456 (antecessor da 612 Scaglietti) station, que, além de receberem o compartimento de carga de uma perua, ganharam portas traseiras e o sobrenome 456T Venice (T de touring). A Pininfarina não foi a única casa italiana a modificar Ferraris. Em 1968, a Vignale adaptou uma 330GT sob encomenda do filho de um importador americano da marca italiana Luis Chinetti Jr., que fez o esboço. O resultado esquisito não impediu Chinetti de tentar novamente, em 1972, com uma 365 GTB/4. Feita pela Panther, a perua tem laterais e a traseira envidraçadas.



Tirando essas italianas, as shooting-brakes são tão britânicas como o costume do chá da tarde. O próprio David Brown, o homem que colocou suas iniciais na companhia Aston Martin, pediu aos engenheiros da marca que desenvolvessem um DB5 shooting-brake para acomodar as suas espingardas e cães farejadores. Deve ter feito sucesso no country club, pois gerou uma série de 12 unidades.


A Lynx também marcou presença com o Eventer, criado sobre o Jaguar XJ-S. Outro nobre modelo inglês convertido foi o Bentley Continental, transformado em Flying Star pelas mãos da Touring Superleggera.



Depois de fazer sucesso com as classes superiores, os cupês-station logo seriam imitados por fabricantes generalistas. Exemplo famoso é o Volvo 1800 ES, de 1971, que surgiu como derivação do veterano cupê P1800, de 1961, que fez história como o carro de Simon Templar, interpretado por Roger Moore na série britânica de TV O santo, no ano seguinte. O misto de perua e cupê fez sucesso pela tampa traseira em vidro, que estaria depois no 480 e também no C30. Como não poderia deixar de ser, o 1800 ES era produzido na Inglaterra pela Jensen. Não era exatamente barato, custava mais que o Jaguar E-Type.


A caça pode ser um esporte de origem nobre, mas as peruas de caça ensaiaram a popularização com o Reliant Scimitar GTE SE5, de 1968. A segunda geração do Scimitar, ou cimitarra, deixou de ser um cupê afiado e se rendeu ao tema. O Reliant conquistou a princesa Anne, filha da rainha Elizabeth II, que ganhou dos pais um modelo 1970. O carro caiu no gosto da princesa, que não tinha interesse na caça da raposa (que tem mais de 300 mil adeptos na Inglaterra), pelo espaço para seus apetrechos de montaria. Não à toa, a princesa comprou oito unidades do Scimitar entre os 4.748 produzidos em duas gerações.


A proposta também influenciou conceitos, que exibem a ligação com o estilo logo no nome. Foi o caso do Audi Shooting-Brake, apresentado em 2005. Como também do Mercedes-Benz Shooting-Brake, que foi revelado no Salão de Pequim de 2010. Depois de dar origem ao CLS de segunda encarnação, teve a sua produção confirmada para este ano. Uma prova de que o charme não morre tão cedo.



* Redação/Jornal Estado de Minas.

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