quinta-feira, 30 de maio de 2013

>>> VIAGEM NO TEMPO


Hoje vamos relembrar duas grandes matérias realizadas pelo jornal interno da Usina de Itaipú, há uns dois anos. A primeira, conta a história e a paixão dos funcionários pelos veículos de trabalho da usina. Já na segunda reportagem, o "comovente" desfecho da história de uma das protagonistas mencionadas durante o texto da primeira matéria. Boa leitura...

1) Mesmo com uma frota nova, os velhinhos ainda seguram as pontas em Itaipú

A frota de Itaipu é uma das mais modernas entre as empresas do setor energético. Prova disso é o leilão de veículos realizado pela usina: todo o valor arrecadado é investido na compra de unidades zero quilômetro. O desfile de carros novinhos em folha, no entanto, não impede que pela usina circulem algumas preciosidades. A velha perua vermelha, ano 1992, que atende aos bombeiros na cota 108, comprova a teoria. É a última Kombi de Itaipu.
 
 
Mas não é o único velhinho. No pátio da Divisão de Transportes (SGST.AD) encontra-se o veículo mais antigo da casa: um caminhão-pipa Mercedes Benz, modelo 1513, fabricado em 1976. Ou seja, 34 anos na ativa. O caminhão era da Unicon e foi cedido a Itaipu na década de 90. Ainda hoje, é o velho Mercedão que abastece as caixas d’água da usina; ou mata a sede do povo quando há festa no Gramadão da Vila A.
 
 
Com 32 anos de casa e às vésperas da aposentadoria, Nilo Sérgio Gomes é uma espécie de enciclopédia dos veículos de Itaipu. Ele sempre trabalhou na área de transportes e conhece em detalhes a composição da frota. Gomes acompanhou a reportagem do JIE numa viagem de volta ao tempo.

Velha Guarda

Outros quatro veículos compõem a velha guarda da casa, todos Mercedes Benz: um modelo 1313 fabricado em 1985, com braço hidráulico utilizado na manutenção das linhas de alta tensão; um caminhão carroceria 608, também de 1985; um furgão 708, de 1987; e um munck 1113 de 1983, que há 16 anos é conduzido por Aladino Goulart, da SGST.AD.
 
 
“A gente faz manutenção correta e ele está sempre bem conservado. É um caminhão confiável”, elogia Goulart, que se diverte quando lembra da primeira vez que pegou o veículo, em meados da década de 90. A missão era simples, remover um poste da usina. “Mas eu não tinha experiência no serviço e o poste caiu em cima do caminhão”, relembra o motorista, que já soma 23 anos de Itaipu.

Cota 108

Para o bombeiro Tiago Leal Mangrich, da Divisão de Segurança da Central (SEOC.AD), a velha Kombi é o veículo ideal para preservar a segurança na área próxima dos transformadores, onde há risco potencial de acidentes. A perua é toda adaptada para levar os materiais de combate a incêndio: extintores, mangueiras, líquido gerador de espuma, material iluminação, moto gerador etc.
 
 
“Até por ser mais rústica, ela é melhor para o terreno dos transformadores. E se não fosse boa, não duraria tanto”, atesta o profissional da segurança. Segundo ele, o veículo passa por vistoria a cada seis horas, quatro vezes por dia, sempre que há mudança de turno. Nunca deu problema. E a quilometragem, ao contrário dos velhos Mercedes, é original: 49.353 quilômetros!

Dias Contados

Nilo Gomes lembra que nos primeiros anos a frota de Kombis e Fuscas era majoritária em Itaipu. De cabeça, ele cita a placa de dois fusquinhas especiais: AO20 e AO21, com indicação “Itaipu Binacional Paraguai”. Os veículos, com documentação paraguaia, eram usados no final da década de 70 para levar e trazer a papelada da usina de um país para o outro. E com um detalhe curioso: na Ponte da Amizade, havia um corredor exclusivo para uso de Itaipu.
 
Nilo Gomes
 
A placa dos fusquinhas era paraguaia para facilitar o trânsito dos veículos a serviço da margem esquerda; e havia outros dois veículos iguais, a serviço da margem direita, com documentação brasileira.
 
 
Aos poucos, no entanto, a frota foi renovada e os velhinhos desaparecendo da usina. Ficaram alguns, com características técnicas bem específicas. Mas até mesmo eles, uma hora, vão ganhar o merecido descanso. Pelo planejamento da Divisão de Transportes, no próximo ano todos os caminhões mais antigos terão sido substituídos. Inclusive o pioneiro de 1976. E também a velha Kombi vermelha da cota 108.
 
 
2) Xodó vira peça de colecionador
 
Xodó coletivo dos Bombeiros e de diversos colegas de Itaipu, a velha Kombi vermelha ano 1992, que serviu à corporação por quase 20 anos, se transformou em peça de colecionador. A perua foi arrematada por R$ 13,5 mil, pelo empresário José Carlos Gabriel, de 53 anos, morador da Vila Yolanda, em Foz do Iguaçu, durante o leilão de veículos promovidos pela binacional, na Assemib. O valor mínimo de venda era de R$ 8.577,10.
 
 
Amante de carros antigos, Gabriel confessa ter caído de amores à primeira vista pela Kombi quando a conheceu no pátio do Almoxarifado de Itaipu, durante visita aos lotes leiloados. “Vim apenas para comprá-la e até passei do meu limite inicial, de R$ 12 mil. Mas já acho que valeu a pena. Verifiquei que ela rodou, em média, 6 a 7 quilômetros por dia. Ou seja, está novinha!”, disse o orgulhoso novo proprietário da Kombi.
 

Ele promete ainda manter as características originais do estimado veículo, um dos mais disputados entre os 76 lotes do leilão. A venda da Kombi provocou reações acaloradas da plateia, que bateu palmas e ovacionou cada lance dado pelos proponentes. Até o leiloeiro Naim Akel Neto entrou na brincadeira. Antes de anunciar a venda, ele comentou: “soube que teve gente que chorou quando soube da venda”, disse Akel Neto.
 
A paixão por carros antigos de José Carlos Gabriel foi herdada de seu pai, que colecionava Jipes 51. “Eu tive três Jipes. O último eu herdei do meu pai, mas depois que ele morreu perdi o gosto pelo Jipe e o vendi para o Ratinho [apresentador de tv]”, contou Gabriel. Com a Kombi, ele recuperou a alegria de ter uma relíquia sobre rodas. “Agora, ela é o meu xodó. E se alguém da Itaipu quiser visitá-la, pode vir”, concluiu.
 
Defensores da Kombi
 
O carinho do novo dono da “vermelhinha” acalmou os admiradores da Kombi na Itaipu. Alguns defenderam a permanência do veículo como peça do Ecomuseu de Itaipu. Um deles foi o engenheiro Alexandre Kozerski, da Divisão de Obras Civis (SOCC.DT).
 
 
"Na minha opinião, a empresa não deveria se desfazer desses dois veículos [a Kombi e o caminhão]. Eles deveriam, sim, ser integrados ao acervo do Ecomuseu, não somente como parte da história da empresa, mas também pela história marcante que ambos os veículos tiveram na industria automobilística brasileira", opinou Kozerski em e-mail enviado à Divisão de Imprensa, após a publicação da nota que informava o leilão da última Kombi da Itaipu. “Ao menos a gente fica mais tranquilo em saber que a qualidade da Kombi e suas características originais serão preservadas”, concluiu o engenheiro.
 
* Redação/Portal JIE.

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