Mesmo três décadas após o fim do movimento hippie, surfistas alternativos da Califórnia usam a Kombi diariamente
Como todas as manhãs, depois de pegar ondas em Hermosa Beach, próximo a Los Angeles, os surfistas Frank, Mark e Doug tomam café no mesmo lugar e lembram sua juventude nos anos 60, quando a Kombi da Volkswagen era um símbolo de liberdade. Esses três amigos sessentões estacionam suas "hippie vans" em frente ao restaurante mexicano Brother's Burritos, à beira do Pacífico, e se deixam levar pela nostalgia de uma era que chegou ao fim em dezembro de 2013, quando a fábrica da Volkswagen no Brasil deixou de produzir a Kombi.
Embora tenha entrado no mercado norte-americano nos anos 1950, foi na década seguinte que esta perua se tornou popular graças à contracultura de então, em particular, pelos surfistas da Califórnia, que a associavam à liberdade de pensar e de viajar. "Os surfistas e as pessoas que gostam de acampar gostaram dela, porque era barata, tinha um baixo consumo de combustível, era fácil de consertar e podia levar um montão de coisas. Eu carrego minha bicicleta e minhas pranchas", conta Frank Paine, de 63 anos.
Sua Kombi branca e verde de 1973 é decorada com estampas havaianas e esteiras de palha no teto e nas paredes. "Todos nós, que estamos aposentados agora, crescemos com a (Kombi) Volkswagen e sentimos muita nostalgia. Todo mundo na Califórnia tem alguma história" sobre esse veículo, disse Mark Mitchler, de 62 anos, ao lado de seu amigo Doug Ball, de 63, que dirige a sua há 34 anos.
São histórias de primeiras namoradas, de viagens ao México, de acampamentos na floresta de sequoias, de gestos de solidariedade na estrada graças a uma fraternidade a qual só os que têm uma Kombi pertencem.
A Kombi foi tão marcante que ganhou um lugar indiscutível em todos os documentários sobre a cultura hippie. Tem um papel importante no filme independente "Pequena Miss Sunshine". E até faz uma aparição especial na animação da Pixar "Carros", onde interpreta um veículo hippie.
O Carro Da Paz
A voz de Bob Marley soa ao fundo, enquanto os três surfistas contam como a Kombi se transformou em um ícone da mentalidade contra o sistema dos anos 1960 nos Estados Unidos. Em um país onde, muitas vezes, o sucesso é medido pelo tamanho, preço e a sofisticação dos carros, o surgimento de um automóvel barato e austero seduziu uma juventude que desafiava a "ordem estabelecida".
"Na contracultura dos anos 1960, se transformou no carro que você tinha que ter se fosse hippie", lembra Mark. Não só se podia consertá-lo, personalizá-lo e dirigi-lo em qualquer lugar. Também era possível transformá-lo dentro dele, o que era muito apreciado pelos jovens da época. Além disso, era como "dar um 'tapa' no governo e nos 'velhos' apenas dirigir um desses carros, porque, para eles, o fato de dirigirmos um carro estrangeiro era um grande insulto", acrescenta Frank.
A Kombi, para os três amigos, lembra tempos mais simples, quando os objetos eram projetados para durar para sempre e era possível entender a mecânica das coisas. "As pessoas, na verdade, chegavam a tratá-la quase como uma mascote ou um membro da família", disse Mark. "Todas são diferentes, soam diferente. As chaves funcionam, ou não funcionam, de forma diferente. Têm personalidade".
Parte de seu encanto é que a mesma carga simbólica de há mais de 50 anos continua intacta. "Esses hippies de então somos nós agora. Esses manifestantes, essa gente que era contra a guerra, amadureceu, cresceu", disse Mark.
E todos eles ainda têm uma senha nem tão secreta, uma Kombi. "Quando você está dirigindo, as pessoas sempre buzinam ou fazem o sinal da paz. Não vou daqui até minha casa (a poucos quilômetros) sem que alguém me cumprimente", afirma.
* Redação/Portal Vrum.
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