Como Volkswagen Kombi disparou de preço e já chega a custar R$ 120 mil
No primeiro fim de semana de dezembro, uma Kombi 1969 Corujinha foi leiloada por R$ 118 mil na capital paulista. Esse é só um exemplo da valorização que o veículo utilitário tem alcançado ao longo dos últimos cinco anos, não apenas no mercado nacional de clássicos colecionáveis. Conforme apuração da reportagem, o exemplar branco restaurado e customizado com vigias no teto, seguindo o estilo californiano, será enviado para fora do Brasil. Sim, é isso mesmo: a velha Kombi, produzida aqui até o fim de 2013, virou produto de exportação.
Segundo Joel Picelli, da Picelli Leilões, responsável pelo arremate, o interesse estrangeiro pela Kombi brasileira ajuda a explicar os preços cada vez mais altos do clássico. "Meia década atrás, aproximadamente, uma Corujinha em bom estado e sem restauração saía por menos de R$ 20 mil. Hoje, Kombis dessa época nas mesmas condições não custam menos do que R$ 80 mil", diz o leiloeiro. De acordo com Picelli, as Kombis mais cobiçadas e caras são mesmo as Corujinhas, ou seja, fabricadas até o modelo 1975. Ele conta que em outro leilão, realizado em Águas de Lindóia (SP) no ano passado, uma unidade 1975 Luxo raríssima de seis portas teve oferta de R$ 132,5 mil - porém, o dono não quis passá-la adiante por esse valor.
"Aumentou bastante o interesse de negociantes e colecionadores estrangeiros pela nossa Kombi. Com isso, os preços começaram a subir. Ainda tem muitas rodando no Brasil, enquanto na Europa o modelo clássico deixou de ser fabricado na década de 70", contextualiza. Picelli destaca que a desvalorização do real tem ajudado a jogar os preços lá em cima, considerando que os clientes "gringos" têm renda em euros ou dólar. Nos Estados Unidos, diz, um exemplar parecido com o leiloado no fim de semana passado, porém 100% original, custa em torno de US$ 200 mil (R$ 1,02 milhão no câmbio de ontem). Em 2017, uma Kombi 1965 atingiu lá fora a impressionante soma de US$ 302 mil (R$ 1,55 milhão), afirma.
Joel Picelli elenca outros fatores, fora o câmbio e a escassez de Kombis antigas em outros mercados, que justificam a escalada nos preços - inclusive no mercado interno. Ele aponta a facilidade de restauração, a grande disponibilidade de peças e um fator intangível: a ligação afetiva com a velha Kombi. "A Kombi também é moda no Brasil. É um veículo que passou pela vida de muita gente em algum momento, seja como transporte escolar, seja como veículo de trabalho. E existem opções para todos os bolsos e gostos, custando de R$ 10 mil até mais de R$ 100 mil. Ainda tem muitas rodando, atendendo desde o sucateiro até o colecionador endinheirado".
Alexandre Badolato, dono da maior coleção de modelos Dodge do Brasil, também guarda espaço em seu acervo, no interior de São Paulo, para o utilitário da Volkswagen. Ele é dono de um exemplar da edição de despedida Last Edition, que adquiriu no fim de 2013 por pouco mais do que R$ 80 mil e está praticamente zerada até hoje. O colecionador estima que hoje poderia vender a sua por aproximadamente R$ 120 mil e diz que, além do fenômeno das exportações, a Kombi tem surfado a alta geral de carros colecionáveis.
"Os preços deram uma explodida. As aplicações financeiras estão retornando uma taxa de juros negativa. O que a Selic paga não repõe a inflação, portanto, há essa busca por ativos como automóveis clássicos. As Kombis já vinham se valorizando por conta da demanda de fora do País e os preços subiram ainda mais", opina. Badolato, porém, faz uma ressalva: "Muitos já mandaram porcarias para fora e 'queimaram o filme', a ponto de eu ter visto anúncios estrangeiros recentes buscando Kombis, porém destacando que não havia interesse nas brasileiras. Claro, existem aqueles que trabalham direito".
* Alessandro Reis/Portal UOL.
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