A história do curioso micro-ônibus soviético que encantou os europeus e americanos
Em toda a história da indústria automobilística mundial, não foram criados muitos veículos no então bloco oriental que ganhariam admiração no Ocidente, que sempre foi tecnologicamente mais avançado. Um dos poucos que se destacaram foi o micro-ônibus ZIL-118, de aparência futurística e design atraente, mas a época e a sorte não lhe proporcionaram o sucesso que merecia.
O programa de produção do fabricante de automóveis soviético ZIL (Zavod Imeni Likhachov) consistia principalmente em veículos comerciais produzidos em grande escala. Além disso, a empresa também produzia limusines de luxo para os então ricos senhores comunistas. Para se ter uma ideia, em 1946 eram produzidos pouco mais de duas mil unidades dos carros ZIS-110. Mas em 1958 os tempos eram outros e a produção da limusine ZIS-110 foi encerrada, sendo substituída no programa de produção por um carro ainda mais luxuoso, o ZIL-111.
A produção da nova limusine, que cogitava representar o alto escalão do governo na época, teve um volume de apenas 10 a 15 unidades por ano, um número bem menor que sua antecessora. Segundo o fabricante, apesar do novo ZIL ser destinado apenas para os representantes mais altos do poder, conseguiu certa fama em países vizinhos, graças ao próprio primeiro-ministro da época, Nikita Khrushchev, que sempre utilizava os veículos em seus compromissos políticos.
Infelizmente, quando a produção diminuiu drasticamente e a empresa começou a "balançar" no mercado, os funcionários e diretores tiveram a ideia de desenvolver um novo veículo em caráter de emergência, utilizando os recursos que estavam à disposição, resultando em um dos mais belos carros soviéticos. A preparação ocorreu mais ou menos secretamente, sem aval do governo, necessário no país. Hoje, esse fato pode parecer insignificante, mas vamos supor que tal procedimento pode não ter sido completamente seguro na época.
A equipe "clandestina" começou a trabalhar em 1959 em um micro-ônibus de luxo, baseado em um chassi ZIL-111 modificado. O fruto desse esforço, na forma de um protótipo extravagante, apareceu em 1962, sob o nome de ZIL-118 Junost (juventude em tcheco). O protótipo foi submetido a testes de fábrica com sucesso, percorrendo milhares de quilômetros em diversos tipos de estradas e condições climáticas.
À primeira vista, o carro impressiona com seu corpo futurista ricamente envidraçado. Alguns entusiastas, espantados com o desenho diferente do micro-ônibus, até ilogicamente o compararam a uma espaçonave (naquela época, as pessoas eram fascinadas pelas viagens espaciais, os quadrinhos eram povoados de histórias semelhantes e os primeiros astronautas já apareciam). Para o resto do carro, os criadores tentaram utilizar o máximo de componentes já existentes, tudo para cortar custos e lançar o modelo o mais rápido possível. O ZIL-118 tinha distância entre eixos de 3760 mm, motor ZIL-130 de seis litros e oito cilindros com potência máxima de 110 cv e era movido pelas rodas traseiras. Uma transmissão automática não convencional de duas velocidades controlada por botões no painel de instrumentos foi usada na limusine do governo. O peso total era de 3.320 kg e a velocidade máxima na configuração básica era de 120 km/h.
Na frente do carro estava sentado apenas o motorista, é claro, do lado esquerdo. O trem de força estava localizado atrás do lado direito do motorista. Na versão padrão do micro-ônibus (no entanto, o carro era oficialmente referido como um carro de passageiros com vários lugares) havia 17 assentos na área de passageiros, um dos quais estava situado contra a direção de viagem e servia como lugar do acompanhante. Com o número de assentos foi possível trabalhar, na ausência da última fila, mais espaço para a bagagem. Houve também uma variante em que os bancos clássicos na parte traseira do carro foram substituídos por três bancos espalhados em forma de U, encostos ao longo da parte traseira e ambas as paredes laterais. A parte central do teto era aberta (deslizante), que poderia ser aproveitada, por exemplo, por fotógrafos entusiastas ao passarem pela cidade em torno de monumentos arquitetônicos.
Os criadores calcularam que para uma produção lucrativa, bastaria produzir cerca de duas mil unidades por ano, enquanto a estimativa do mercado era de quatro a seis mil desses micro-ônibus por ano. No final, porém, os planos otimistas não foram cumpridos e apenas poucas unidades do ZIL-118 saíram dos portões da fábrica, mesmo com todos os predicados. Os números exatos e nada lisonjeiros do volume de produção nunca foram revelados.
O triunfo em Nice e o interesse dos americanos
A satisfação, pelo menos parcial, para os fabricantes do micro-ônibus veio no 8º International Bus Weekend em Nice, França, em 1967. A produção em série não havia sido (e não seria) aprovada até então e naquele ano, 129 ônibus de todos os tamanhos estavam competindo em várias categorias. Os soviéticos participaram de tal evento pela primeira vez, e seu ZIL-118 levou para casa nada menos do que doze prêmios. O premiado micro-ônibus surpreendeu os especialistas ocidentais com o conforto ao dirigir e as formas do seu desenho.
Este famoso capítulo não terminou com a distribuição de diplomas. Os vendedores de ônibus ocidentais tinham demonstrado grande interesse no micro-ônibus, que estava sendo elogiado sem críticas pela imprensa. No entanto, os timoneiros da economia soviética não aproveitaram a oportunidade, muito devido a questões políticas. Pouco tempo depois, os americanos se inscreveram, especificamente a Ford, para formar uma parceria e produzir o micro-ônibus soviético para o mercado americano com sua própria marca. Na Ford, o próprio Henry Ford II (neto do famoso e homônimo fundador da marca) negociou a produção licenciada em Moscou. Mas mesmo isso não deu certo.
Em 1970, a empresa havia produzido duas dúzias de ZILs-118 e eram usados principalmente para transportar delegações, jornalistas e membros menos importantes de visitas de estado. Dos 24, pelo menos uma unidade (algumas fontes dizem até três) foi transformada em ambulância (ZIL-118A). Porém, não se tratava de uma ambulância qualquer. À primeira vista, claro, nos atrai pelo seu comprimento, mas a principal suspeita deve ser levantada pela inscrição ao lado: Afirma-se que a ambulância era destinada apenas a celebridades, do ponto de vista técnico é mais interessante que os médicos pudessem realizar operações menores nela.
Essa é uma das razões pelas quais a parte central do teto poderia ser elevada para que o cirurgião não precisasse se agachar sobre o paciente. A equipe médica da ambulância era composta por cinco membros.
Modernização
Nos anos setenta até meados dos anos noventa, a produção continuou com modelos modernizados da série de micro-ônibus Junost, principalmente para pedidos esporádicos de estatais.
Os novos tipos, o ZIL-118K e mais tarde o ZIL-3207, diferiam na aparência do lendário 118 por uma carroceria mais moderna, não tão arredondada. Eles também receberam motores mais potentes: 125 cv (ZIL-118K) e 130 cv (ZIL-3207). Esses modelos também tinham outros subtipos, como ambulância (2 peças ZIL-118KA e 4 peças ZIL-118KS) ou caminhão com lona (1 peça ZIL-3207G).
A produção total de micro-ônibus Junost, de 1962 (o primeiro ZIL-118) a 1998 (o último ZIL-3207), foi de cerca de noventa unidades. E terminou assim, de forma melancólica e quase anônima, a história de um dos mais interessantes modelos soviéticos. Encantou o mundo, mas não teve a oportunidade de encantar seu próprio país.
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