Dodge, Vocação Vara Fora-De-EstradaA propaganda dos primeiros caminhões Dodge, fabricados no Brasil pela Chrysler, em 1969, não era nada modesta. Dizia: “O Dodge 700 é para ser carregado com peso pesado e não apenas volume. Para uso na cidade e na estrada, em operação contínua ou semicontínua. Ele tem obrigação de ser forte”. Mas também não era enganosa. O anúncio oferecia um caminhão com chassi e suspensão reforçados, motor potente e robusto conjunto de transmissão, qualidades que definiam sua melhor vocação: operações agroindustriais e trabalhos pesados fora-de-estrada.
Nos pouco mais de 10 anos em que foram fabricados no Brasil, os Dodge conquistaram muitos admiradores, graças à força do seu motor e à resistência da transmissão.
O motor V8 de 196 hp, que equipou os primeiros Dodge D700, era forte e confiável. Mas, como era à gasolina, tornou-se um problema quando o preço do petróleo triplicou, no início dos anos 70. Logo surgiu o modelo P700, equipado com motor Perkins diesel, menos potente porém bem mais econômico. Em seguida, vieram os modelos D900 e P900, mais robustos ainda, com rodas raiadas e PBCT de 22,5 t com 3º eixo. Em 1974, a fábrica começou a usar os motores MWM, quando foi lançado o D950, sem dúvida o mais prestigiado dos caminhões da linha, até hoje muito cobiçado no mercado de usados. O motorzão de seis cilindros e injeção direta “casou” perfeitamente com a transmissão Tinkem, muito confiável, e eficientes freios a ar cumpriam bem a tarefa de segurar o bruto.
ÁLCOOL
Mesmo antes do desenvolvimento da indústria canavieira para a produção de álcool combustível no final dos anos 70, os veículos preferidos para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar eram os Dodge. Eles tracionavam muito bem as cargas volumosas no ambiente hostil das lavouras de cana, com seus carreadores precários – quando havia carreador. O D950S, lançado em 1978 com tração 6x4, era um expoente: enfrentava caminhos onde somente tratores se atreviam a entrar.
Os caminhões Dodge chegaram a ser produzidos com motores a álcool, mas não se mostraram muito econômicos e a maioria teve os motores substituídos, antecipando o que hoje é regra: o caminho entre a plantação de cana até o tanque dos carros a álcool é feito com diesel!
Já sob o comando da Volkswagen, que havia comprado a Chrysler brasileira, os “Dojões” – como eram conhecidos – foram rebatizados como E11, E13 e E21, e tiveram sua produção encerrada em 1983.
O D950 amarelo que ilustra esta reportagem foi fabricado em 1976 e pertence a Luís Carlos Cavalcanti, de Londrina (PR). Com sua carroceria basculante, é utilizado diariamente em serviços de terraplenagem. Muitos Dodge com 30 anos ou mais continuam no trabalho pesado. É comum encontrá-los carregados de cana pelas estradas, dividindo tarefas com modelos mais modernos e muito mais caros.
De Chrysler a VW
A norte-americana Chrysler ingressou no mercado brasileiro em novembro de 1966, quando adquiriu a Simca do Brasil e continuou a produzir veículos daquela marca até 1969. A fabricação de caminhões foi precedida pela aquisição das instalações onde havia funcionado a International Harvester, em Santo André (SP), que estavam fechadas desde 1965. Após investimentos de 50 milhões de dólares, em maio de 1969 é inaugurada a fábrica dos caminhões da marca Dodge, com o lançamento do modelo D700, de PBCT de 19 t. Em agosto daquele ano foi lançado o caminhão médio D400, e em novembro a caminhonete D100, todos com motor V8 de 196 hp, o mais potente do país à época, que também equipava os automóveis Dodge Dart. Em 1979, o grupo Volkswagen adquiriu 87% da companhia e, no final do ano seguinte, absorveu a totalidade de seu controle acionário. Os Dodge deram know how para a VW começar a fabricar seus próprios caminhões em 1981, mas os caminhões da marca Dodge só deixaram de ser fabricados em 1983.
* Jackson Liasch/Revista Carga Pesada.
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