Colecionador do Acre guarda caminhão da Segunda Guerra Mundial
Impossível entrar na casa do desembargador aposentado Arquilau de Castro Melo, de 60 anos, e não se sentir um viajante do tempo. O lugar ficou pequeno para tantas relíquias. Entre elas está o item considerado mais valioso: um caminhão utilizado pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ainda em perfeito estado de funcionamento.
Fabricado em Olten, na Suíça, pela indústria Berna, o carro foi adaptado e utilizado para transportar judeus aos campos de concentração e câmaras de gás, em 1943. "Ele foi feito para Hitler. Apesar da Suíça se considerar neutra, ela entrava na guerra não com soldados, mas dando todo suporte logístico", comenta o colecionador, que é também fascinado pela história.
O veículo raro foi comprado há quatro anos de um comerciante de Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do Acre. Arquilau acredita que, após a guerra, os alemães queriam se ver livres dos objetos que lembrassem o Holocausto [termo usado para se referir à perseguição e ao extermínio de grupos contrários ao regime nazista, especialmente os judeus]. “Como em Cruzeiro do Sul os primeiros padres eram alemães, eles utilizavam esse caminhão, a princípio, para serviços da diocese e, posteriormente, venderam ao comerciante que me repassou”, conta.
O colecionador procurou conservar as peças originais do veículo. Segundo ele, até mesmo o motor ainda é original de fábrica. "Apenas a carroceria de madeira que foi se deteriorando e os faróis tiveram que ser trocados", comenta. Pelo menos três vezes por semana o carro é ligado e a manutenção é realizada regularmente.
Museu Itinerante
Motivado pelo desejo de contar histórias e mostrar os costumes de diferentes épocas com a ajuda dos objetos antigos, Arquilau pretende criar um museu sobre rodas no Acre. “É uma forma de viajarmos um pouco e nos entendermos como gente”, destaca.
Entre lampiões, porongas, máquinas de escrever, vitrolas e até as primeiras ferramentas utilizadas pelos seringueiros para extração do látex, está o Berna 1943. Os objetos reunidos fazem uma conexão histórica e econômica entre o Acre, produtor e exportador de borracha para os países aliados, e a Segunda Guerra.
A ideia do colecionador é levar o veículo para escolas para que ele seja utilizado junto com os demais objetos como material didático. “É a melhor forma de dar aula de história, levando o museu ambulante cada semana para uma instituição, para mostrar às crianças e aos jovens o que foi a conquista do Acre, quando mais de 50 mil homens vieram do Nordeste para produzir borracha para a Segunda Guerra."
O projeto do museu itinerante já foi escrito e o idealizador aguarda pela abertura de um novo edital da lei de incentivo à cultura para colocá-lo em prática. “Pretendo conseguir levantar verba para fazer isso, porque obviamente tem um custo. Mas se não conseguir, uma hora vou me zangar, pegar esse caminhão, levar para a praça junto com esses objetos e começar os trabalhos”, brinca.
* Rayssa Natani/Portal G1.
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