segunda-feira, 25 de maio de 2015

>>> LEXUS NX 200T


Acelerando o Lexus NX 200T: Dê boas-vindas ao SUV que quer colocar a marca de luxo da Toyota no seu radar

A arte de vender passa basicamente pelo poder de argumentação. É preciso bons fundamentos para convencer o consumidor a comprar desde um tênis com quatro listras no camelódromo até plano funerário. Quando há outras referências no mercado, o convencimento é mais difícil. É o caso da Lexus, que lança o NX 200t no Brasil, e ainda tenta se mostrar como uma opção aos clientes das alemãs.
 
 
A divisão premium da Toyota, criada originalmente para o mercado norte-americano, tem por tradição ser a tal “Maria Vai com as Outras”. Hoje, isso significa investir em utilitários esportivos de menor porte, que ficam longe da terra, tem tecnologia embarcada e aquela dose de sofisticação. Daí o lançamento deste NX 200t, que estreou mundialmente no ano passado, foi mostrado no Salão de São Paulo e agora chega às lojas.
 
De cara o ambiente a bordo satisfaz. Os bancos de couro abraçam bem o motorista, há controle elétrico da coluna de direção e do assento e espaço de sobra para pernas e ombros. No acabamento, a Lexus capricha mais que Mercedes e Audi. Couro agradável ao toque e aos olhos no painel e interior que prima pela sofisticação nas peças, fechamentos e tecidos. Nas linhas, porém, não nega suas raízes Toyota. Os comandos e mostradores do ar-condicionado automático parecem vindos de uma época em que Roxette fazia sucesso. Destoa do estilo do console central e da tela multimídia na parte de cima do painel. Nesta parte interativa, a propósito, a Lexus recorreu a um moderno touch pad ao estilo de carros mais caros das rivais alemãs. Muito bem posicionado e fácil de operar, ele permite explorar navegador GPS e sistema de som. Mais intuitivo e bem calibrado que o meu notebook, que vive fechando arquivos contra a minha vontade.


Botão start acionado, o volante se ajusta automaticamente, enquanto o motor acorda e dá boas vindas. Acorda, digamos, de um longo descanso. Trata-se do primeiro turbo da Lexus, que estreia justamente no NX – coisa que as adversárias já usam desde que o i-Phone 3 foi lançado. O quatro cilindros é capaz de mesclar ciclos Otto e Atkison. A explicação está no funcionamento dos comandos de válvulas, que retardam a abertura de válvulas na admissão.
 
Segundo a engenharia, a injeção dupla também permite tal operação. A convencional trabalha juntamente com a direta em baixas e médias rotações – em alto giro, só a injeção direta atua. Desta forma, o motor aquece mais rápido, responde melhor em baixas rpm e aprimora a eficiência, o que significa menor consumo em tempos de ambientalistas raivosos – a marca fala em 9,2km/l em ciclo misto, o que não é lá grande coisa. O BMW X1 2.0 crava 10,1 km/l.

SPORT E F-SPORT

Na pista, se o caso for ser ambientalmente responsável, o NX 200t parece um sedã japonês, eficiente, correto, mas sem emoção – se você pensou num Corolla acertou! No modo de condução Eco, as respostas ao acelerador são até ágeis, mas o desempenho é comportado como um garçom suíço e as mudanças da caixa automática de seis marchas, parcimoniosas como um monge budista. Entre 2.000 rpm e 2.500 rpm, o câmbio também fica vacilante nas retomadas.
 
Para a coisa ficar divertida, é preciso você colocar o NX no modo Sport. O motor fica agressivo, e os 238 cv saem, enfim, da cocheira. Enche rápido quando necessário e a caixa fica esperta. Na entrada da reta, o turbo acorda e o SUV mostra disposição e facilidade para alcançar os 160km/h.
 
A Lexus, porém, precisa seguir o comportamento dinâmico dos rivais alemães. Apesar da plataforma nova (com elementos do CT 200h e do Toyota RAV4), da arquitetura com aplicação de aço de ultra resistência e assoalho de alumínio, sua versão “básica” faz um bote salva-vidas parecer controlável. Ele sai bastante nas curvas e exige correções do motorista. Por isso os controles eletrônicos de estabilidade são tão invasivos.
 
 
Sensação bem diferente da versão com pacote F-Sport, que custa R$ 254.950. No design, mudam a grade com disposição tipo colmeia e as capas dos retrovisores na cor preta. Por dentro, tudo sugere mais diversão: pedaleiras cromadas, aço escovado em detalhes no painel, costuras vermelhas nas portas, volante, bancos bicolores com abas salientes e couro perfurado.
 
Mas o grande barato está no modo de condução Sport, que, nesta configuração, deixa a suspensão do NX mais firme. O que faz toda a diferença nas retas e curvas. Some-se a isso o fato de a F-Sport calçar rodas e pneus mais largos (235/55 R18 contra 225/65 R17, da versão de entrada).
 
A direção firme e de ótima pegada nem precisa fazer esforço para segurar o carro nas curvas. O NX 200t F-Sport gruda mais no asfalto e se livra de vez do pacato comportamento de sedã japonês. Dá até para abusar mais do modelo e pisar fundo sem medo. Na reta de 700 m, o velocímetro no head-up display passa dos 180km/h, e o motor mostra disposição para ir além disso.
 
 
Com isso fica claro que o NX 200t não nega seu habitat: asfalto. Não que ele tenha alergia a terra, pois a tração AWD, que distribui a força sob demanda – é originalmente dianteira, mas pode chegar a 50/50 – até ajuda numa estradinha de terra. Só que na cidade o SUV garante conforto aos ocupantes, com uma suspensão independente na frente e atrás, espaço para dois adultos e uma criança no banco traseiro, além de um bom recheio de equipamentos. Argumentos indispensáveis para quem quer brigar com BMW e Mercedes. A vantagem do Lexus é que o X3, apesar do facelift do ano passado, continua bem datado. E o GLK ainda não mudou seu controverso desenho. Mas ainda tem o estiloso Range Rover Evoque, que carrega o DNA de marca de luxo e a tradição fora de estrada.
 
Com o NX, a Lexus, que tem só uma loja no País, pretende aumentar em cinco vezes sua média de vendas no Brasil: de 20 unidades mensais para 100! (ainda assim um décimo da média das rivais alemãs). Além de argumento, o bom vendedor não pode ser tímido. Não há convencimento poderoso suficiente para vencer o acanhamento.

* Texto: Fernando Miragaya - Fotos: Christian Castanho/Car And Drive Brasil.

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