sexta-feira, 4 de novembro de 2016

>>> 'PREGADA' NO CHÃO


Chevrolet C10 desfila 'pregada'
no chão e com motor turbinado

A linha C-10 da Chevrolet nasceu no final dos anos 1960 cheia de opções: com ou sem caçamba, cabine dupla (duas portas e capacidade para seis ocupantes), além das séries destinadas ao Exército e à Marinha — sem teto rígido, com para-brisa basculante.


Embora tenha tantas versões, inclusive com boa variedade de cores, hoje a antiga é difícil de ser encontrada em bom estado. Mais do que isso, uma C-10 é o tipo de “caminhãozinho” que dificilmente veríamos modificados, ainda mais se imaginássemos um utilitário desse com lataria e interior totalmente “originais”. Mesmo assim, há quem encontre criatividade para modificar esse clássico da Chevrolet, como fez o proprietário dessa picape 1971 cheia de equipamentos.


A base para o projeto, idealizado pelo paulista Eduardo Castello, o proprietário, de 31 anos, era de modificar essa picape clássica sem agredir sua originalidade, mas aplicando uma boa dose de radicalidade. “Queria montar um carro diferente e 'socadão' para chamar a atenção pelas ruas de São Paulo. Como tenho outra C-10 de 1974, utilizada como veiculo de trabalho, resolvi correr atrás de outra igual para deixá-la com estilo diferente”, conta Eduardo.


Quando essa C-10 1971 foi encontrada, estava bem podre, mas completa nos detalhes de acabamento, perfeita para uma restauração geral. Mas isso era apenas o primeiro passo. “Foram consumidos três anos para chegar nesse resultado”, explica Eduardo. E, nesse intervalo de tempo, diversas histórias ficaram na lembrança do proprietário.


“Os acessórios originais, avaliados como aceitáveis quando adquiri o carro, simplesmente desmanchavam quando tocados! Para deixar uma grade perfeita, fui obrigado a utilizar três peças ‘meia boca’”, conta. Outra história, essa engraçada, é a do friso de metal que contorna o para-brisa. “Eu achei em uma C-10 de um senhor que vendia frutas na rua. Abordei o comerciante e propus um friso de plástico novo e um para-brisa zero em troca do belo e íntegro de sua picape. Passei por louco, mas ele aceitou na hora!”, relembra.


Acabada a peregrinação em busca de peças, era chegada a hora de mandar bala na funilaria. Além dos trampos normais para deixar a lata zerada para aplicar a impecável pintura Laranja Solar (original da C-10 anos 71 e 72), o chassi foi o item que exigiu mais trabalho. Afinal, foi totalmente refeito para receber o sistema de suspensão a ar — a carroceria roda tão baixa que é capaz de gerar faíscas em contanto com o asfalto, ou de, literalmente, enterrar a picape em um terreno mais macio, como a grama…


Nesta fase do projeto, a caranga foi enviada para a Custom Suspension Air Design, de Carapicuiba (SP), onde o chassi original foi totalmente descartado. “O pessoal da Custom construiu um chassi novo, do zero, para instalar suspensões dianteiras e traseiras. A ideia era posicionar toda a mecânica mais para cima, de modo que a carroceria chegasse até o chão antes da mecânica da picape”, explica Eduardo, e completa: “além dos suportes tubulares de motor e suspensão, as laterais do chassi incorporaram também tanques de ar de aço inox. Escapamento, linha de combustível, tanque… Tudo teve posicionamento repensado para se adequar ao novo chassi da picape”, completa.


Esse trabalho, no entanto, foi projetado para receber rodas de 22”. Por isso, com as originais de 16”, não é possível chegar ao fim do curso da suspensão. “O projeto inicial era para as rodas maiores, mas ainda não achei um modelo que combinasse com esse visual de carro antigo da C-10. Por enquanto, vou deixar ela assim, pois a galera aprovou, e nos encontros que participo, consigo agradar tanto os amantes de veículos modificados como os dos carros antigos originais”, revela.


Como a altura do carro varia, era necessário trabalho especial para as rodas não rasparem na carroceria. Assim, em qualquer regime de trabalho da suspensão, a galera da Custom conseguiu um resultado onde a picape é capaz de rodar tranquilamente pelas ruas de Sampa, mesmo que socada. Nas “poucas” imperfeições que encontramos no asfalto paulistano, o que se ouve raspar (a todo instante) é “apenas” a cabine do carro, sendo consumida pelo asfalto. E este é o grande barato da caranga! Chamar a atenção com faíscas proporcionadas pelas raspadas da carroceria no chão.

“Esta C-10 faz a gente parecer artista famoso. As pessoas ficam olhando e pedindo para tirar foto o dia todo. Só falta pedir autógrafo. Ainda preciso colocar uma chapa de titânio embaixo do chassi, para soltar as faíscas brancas. Aí, sim, vou raspar ela no chão com vontade”, brinca Eduardo.


Se ele quiser, inclusive, pode andar forte enquanto se arrasta no chão. É porque, embaixo do capô, o antigo motor Chevrolet Brasil 4.3 litros que equipava este utilitário deu lugar a outro, preparado. Saiu o silencioso e beberrão de 151 cv e entrou um 4.1S de Opala. “O motor é todo original internamente e usa carburador Solex 3E. Mesmo assim, Mauro Cesetti, da Cesetti Turbo & Aspirado, tratou de enfiar um kit turbo da DNT. Não é nenhum canhão, mas garante umas espirradas graças ao turbo Biagio .50, que trabalha com 0,6 kg de pressão”, explica.

A transmissão original de três velocidades foi mantida. Seu acionamento na coluna de direção garante diversão, com engates precisos e a famosa “jogadinha lá em cima”, para engatar a terceira marcha. “Optei por manter o câmbio para não mexer na originalidade do interior, pois a alavanca na coluna deixa o carro mais elegante”, conta. E, por falar em interior, até o tecido do banco é o original de época e muito difícil encontrar. “Quando achei, fui obrigado a pagar R$ 1 mil no metro quadrado do tecido. Mas, valeu cada centavo. Imagine um interior desse com um tecido qualquer…”, finaliza o feliz proprietário.

* Leonardo Figueira & João Mantovani/Revista Fullpower.

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