No auge da tecnologia a Kombi sobrevive nas mãos de apaixonados pelo modelo.

A explicação para estes números ele tem de imediato: a Kombi é o único carro que consegue transportar uma tonelada de carga com um preço tão baixo de mercado (uma zero quilômetro custa R$ 35,5 mil em Rio Preto) e com manutenção até cinco vezes menor do que suas concorrentes. O utilitário nasceu de um rabisco à toa numa das páginas da agenda do holandês Ben Pon, durante uma reunião na matriz da Volks na Alemanha, em 1947. Mas a idéia só foi posta em prática em março de 1950, quando começou a ser fabricado um furgão todo fechado com o nome de Type 2. Algum tempo depois, surgia a versão com janelas laterais e bancos para oito passageiros. Era o nascimento da Kombi, abreviação mais palatável do alemão Kombinationfahrzeug, ou veículo de uso combinado. No início, o carro era importado no Brasil pela Brasmotor, representante da Chrysler.

Somente em setembro de 1957, quatro anos após a instalação da filial brasileira da Volks, a Kombi começou a ser produzida no País. Foi nessa época que o carro foi utilizado como dormitório pelos candangos durante a construção de Brasília. A fama de veículo de trabalhador que sempre seguiu a Kombi no Brasil, entretanto, não teve correspondência no restante do mundo. Nos Estados Unidos, ela virou tranporte hippie nos anos 60, veículo familiar nos 70, até sair de linha em 1979. Na Europa, o carro foi mudando suas características até se tornar um veículo completamente diferente.
A Kombi brasileira é a única que ainda reproduz o design alemão produzido entre 67 e 79, embora tenha passado por duas modificações: em 75 e 97. Hoje, somente a África do Sul ainda produz Kombis, só que da geração três (Vanagon), enquanto os brasileiros ainda se contentam com a dois. Está comprovado, pois, que o cliente da Kombi não gosta muito de luxo. Em 97, a Volks lançou um modelo com acabamento superior (Carat), que foi um fracasso retumbante de vendas. “Nessa época, percebemos que o maior atrativo do veículo é sua rusticidade”, diz Kakinoff. O fato do veículo ser simples permite um uso variado. Na região de Rio Preto, a Kombi ainda é muito utilizada no transporte escolar e de trabalhadores rurais, nas feiras ambulantes, nos pontos de venda de cachorro quente. É esse público que, de acordo com o gerente de marketing, deve assegurar à Kombi um futuro promissor: “Enquanto a demanda ficar na casa dos milhares, a Volks brasileira vai continuar produzindo Kombis.”
Feiras livres são o paraíso das Kombis

Tanto Alves quanto os demais feirantes chegam cedo, às 4h30, 5h, para, até as 6h, as barracas já estarem prontas. A maioria dos feirantes também são sitiantes, e vendem seus produtos direto ao consumidor, sem intermediário. “Sai bem mais em conta”, afirma Carlos Nazaré Balestrieiro, 33 anos. Ele é sitiante em Ipiguá, e usa a Kombi ano 82 do sogro para carregar sua produção: tangerina, poncã, laranja. “É um veículo versátil, leve, e barato de mecânica”, diz. O motor da Kombi ano 80 de Vanderlei Batista, 42 anos, também está novinho, ainda na revisão. “A kombi é prática, fácil de estacionar, e econômica. E protege muito mais a verdura que eu vendo do que um caminhão”, afirma.
A mesma vantagem é citada por Gilberto Martins, 36 anos. “Não tem outro veículo que substitua. Caminhonete não dá. Na Kombi, você pode levar carga dentro e em cima”, afirma. Ele e seu sócio Alexandre Eurico Gonçalves, 26 anos, têm duas Kombis: uma azul claro, ano 75, e outra bege, ano 85. Ambos vão uma vez por semana de caminhão a São Paulo comprar uva, morango e melão para, de Kombi, levar até as feiras diárias de Rio Preto. Martins diz que trabalha em feira desde criança. O mesmo ocorre hoje com o seu filho. “Ele está treinando. Quando for maior, com certeza também vai usar a Kombi para vender na feira.” Como na propaganda da cerveja, a Kombi é o carro número um dos feirantes.
Raridade de 71 sai pouco para “passear”


* Allan de Abreu/Diário de São José do Rio Preto, Junho-2008.
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