quarta-feira, 2 de junho de 2010

>>> ATITUDE LOUVÁVEL

Cine Móvel: Dois caminhões levam salas de cinema a várias regiões carentes do país.
O burburinho na praça e os olhos curiosos das crianças anunciam: o cinema chegou à cidade. Trazidos na boleia de um caminhão, as estruturas metálicas, cadeiras, equipamentos de som e tela aos poucos se transformam numa verdadeira sala de cinema. Em cartaz, apenas filmes nacionais. E o melhor: a entrada é gratuita. Levar cultura até as comunidades de baixa renda é o objetivo do Cine Tela Brasil. O cinema é raridade na maior parte das cidades visitada pelo projeto. Dados de 2009 mostram que o Brasil tem 1,1 sala de cinema para cada 100 mil habitantes, segundo pesquisa da empresa Rentrak EDI. A maioria concentrada em metrópoles.


A ideia do projeto nasceu em 1996 como Cine Mambembe. A cineasta Laís Bodansky e o roteirista Luiz Bolognesi decidiram percorrer o interior do Brasil com uma picape Volkswagen Saveiro levando a sétima arte às regiões mais afastadas do país. A viagem começou no sul da Bahia chegando ao interior da Amazônia. Com um projetor amador e uma tela na caçamba, eles montavam cinemas improvisados em praças e espaços públicos para exibir curtas-metragens brasileiros. "Era uma forma de conhecer o Brasil e mostrar os filmes para um público que desconhecia o cinema", explica Laís. A cineasta lembra que, ao final de uma das sessões no Piauí, uma senhora de 75 anos a abraçou e disse que sempre teve a certeza de que não morreria sem ir ao cinema.


A experiência virou até documentário: Cine Mambembe – O Cinema Descobre o Brasil (1999). Foi nessas andanças, inclusive, que Bolognesi escreveu o roteiro do filme Bicho de Sete Cabeças (2001). Depois de oito anos nesse formato, o projeto ganhou outras dimensões e novo nome, Cine Tela Brasil. Com o patrocínio da CCR e da Fundação Telefônica, a picape deu lugar a dois pesos pesados: um Mercedes-Benz L1518 e um Volkswagen 17-210. Os caminhões já visitaram mais de 300 cidades, exibindo 72 produções nacionais. O público estimado é de 700 mil espectadores.

Mas não foi só o meio de transporte que mudou. Hoje, o cinema itinerante tem uma tela maior, ar-condicionado, poltronas e o melhor: o escurinho do cinema. "Desde o início queríamos levar às populações carentes não apenas o filme, mas a experiência de estar dentro de uma sala de cinema", afirma Laís. "Antes era ao ar livre, cada um tinha que levar a própria cadeira e, se chovia, a sessão era cancelada." Só este ano, os caminhões devem percorrer 42 cidades. As escolas da região são incentivadas a participar. Depois das sessões, os professores recebem material didático para que os filmes sejam trabalhados dentro das salas de aula.


Além do cinema itinerante, a cineasta de Chega de Saudade (2008) e As Melhores Coisas do Mundo (2010) coordena há três anos, ao lado de Bolognesi, oficinas de cinema para jovens carentes. Levando a sério a máxima "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", 20 jovens produzem seus curtas a cada oficina. Aprendem a escrever roteiro, filmar e montar os filmes. "Queríamos que eles aprendessem a se expressar, a contar as próprias histórias e sonhos", diz a diretora. Já passaram pelas oficinas mais de 900 alunos, e 132 curtas foram realizados, três deles premiados em festivais.

* Roberta Saviano/Revista Auto Esporte.

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