sexta-feira, 26 de novembro de 2010

>>> VERANEIO FAMILIAR

Cabeleireiro mantém Chevrolet Veraneio 1976 há mais de duas décadas. A bordo do carro, ele viajou com a família para vários estados brasileiros e até para outros países.
Poucos proprietários levaram o nome do próprio carro tão a sério quanto o cabeleireiro Samuel Gonçalves de Lima, de 72 anos. Na década de 1980, ele decidiu comprar um carro para fazer longas viagens de veraneio na companhia da mulher, Celina, da filha, Janaína, e de um casal de amigos, que levavam os quatro filhos. Para transportar tantas pessoas e rumar para destinos distantes, não poderia ter escolhido um veículo mais sugestivo que uma Chevrolet Veraneio ano 1976.


Samuel calcula que tem a Veraneio há cerca de 24 anos. A compra já pertence a um passado tão distante que o cabeleireiro tem dificuldade para lembrar a data. Contudo, ele guardou na memória um detalhe curioso: “Paguei o carro com um cheque da Minas Caixa, que acabou na transição do governo estadual de Newton Cardoso para Hélio Garcia”.

A bordo do carro, as duas famílias costumavam viajar para a cidade de Paranavaí, no interior do Paraná, onde Samuel tem parentes, e para polos turísticos distantes, como Foz do Iguaçu, no mesmo estado, e Gramado, no Rio Grande do Sul. As idas à Região Sul do país renderam visitas ao Paraguai, onde o proprietário aproveitou para comprar um jogo de pneus novos para a Veraneio, e à Argentina, onde as autoridades da imigração sabatinaram os viajantes com várias perguntas. Destinos mais tradicionais, como os litorais de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, também não escaparam dos roteiros de férias do grupo. Como a turma ocupava quase todo o interior do veículo, era necessário rebocar uma carretinha para acomodar a bagagem, que de acordo com o proprietário, sempre era maior na volta que na ida. “O pessoal gosta de comprar lembranças,” diz.

A Veraneio preserva a maior parte de suas características originais. Apenas dois itens foram modificados. Um deles é o câmbio, que já havia sido trocado quando Samuel comprou o carro. No lugar da transmissão original de três velocidades, com alavanca na coluna de direção, foi instalado o conjunto do Dodge Charger, com quatro marchas e alavanca no assoalho. “Esse câmbio é de muito boa qualidade, pois durante esses anos todos quase não precisou de manutenção,” opina o cabeleireiro. A outra alteração foi no interior, onde as duas primeiras fileiras de assentos foram substituídas. “Os bancos anteriores eram incômodos. Os atuais são mais confortáveis para viagens,” explica.

REJUVENESCIDA

O motor de seis cilindros a gasolina foi mantido. Recentemente, o cabeçote, que sentia o peso das centenas de milhares de quilômetros rodados, passou por uma retífica. O consumo não é alvo de críticas para Samuel, que destaca a capacidade do carro: “Como viajávamos nove pessoas, o consumo acabava não sendo muito alto”. Anteriormente, a carroceria foi rejuvenescida, ganhando uma pintura nova, que manteve a tonalidade original.

De acordo com o cabeleireiro, a Veraneio é valente e raramente apresenta defeitos. “Ela é boa de estrada, apesar de estar ultrapassada. Tem boa visibilidade, é confortável e não sente o peso dos passageiros e da bagagem,” explica. Ele se lembra de poucos percalços provocados por falhas mecânicas, que tiveram solução simples e nunca deixaram os viajantes na estrada. Samuel ficou apreensivo apenas uma vez, quando teve que mexer no motor à noite. “Ocorreu um problema no carburador e uma pecinha caiu no asfalto. Como estava escuro, pensamos que não conseguiríamos encontrá-la. Mas o filho do meu amigo achou. Olho de menino é outra coisa,” recorda.


Nos dias atuais, Samuel tira a Veraneio da garagem apenas eventualmente, para dar uma volta. “Agora que os meninos cresceram e estão independentes, ela está mais encostada. Na cidade eu ando pouco, por causa da dificuldade para estacionar,” conta. Para seus deslocamentos diários ele usa um Fusca 1600 ano 1985. Adquirido há cerca de 10 anos, o veículo já tem algumas boas histórias para o cabeleireiro contar.

* Pedro Cerqueira/Jornal Estado de Minas.