O desafio é chegar: Instituição usa Kombis para transportar crianças que não têm como ir até o hospital.Apesar da pouca idade, o pequeno Fernando Rodrigues da Silva, 9 anos, enfrenta grandes desafios na vida. O jovem Wesley Gama, de 17, também. Os dois travam uma luta diária não só contra o câncer, mas também contra as dificuldades de seguir o tratamento, já que moram longe dos hospitais onde são atendidos.
A boa notícia é que no meio do caminho surgiu a Ahpas. A Associação Helena Piccardi de Andrade Silva, entidade sem fins lucrativos, foi criada em 1999 por Luiz Andrade da Silva e Tatiana Piccardi, atual presidente, com o objetivo de oferecer transporte para os pacientes mais necessitados, que estão distantes do centro da cidade de São Paulo. E de graça.
“Não é simples questão de transportar crianças e jovens. Por conta da doença, eles ficam frágeis, debilitados e até com baixa estima. É preciso um transporte específico para que não fiquem ainda mais abalados com olhares de preconceito ou piedade. Assim, o transporte é também uma forma de proporcionar melhor qualidade de vida para esses pacientes especiais”, diz a presidente da entidade.
Com quatro Kombis, os 8 funcionários e 42 voluntários da Ahpas se desdobram para atender 30 pacientes. Não há rotina nos trajetos: “As peruas partem com destinos diferentes; duas saem às 4h30 da manhã e rodam até a tarde. A terceira começa às 9h30, e fica na rua até as 20 horas; a última, que pega as crianças às 14 horas, não tem hora para encerrar a jornada”, diz Tatiana.
Uma Kombi atende os pacientes da zona leste da cidade, e outras três se concentram na zona sul, onde, em muitos casos, nem o GPS ajuda a localizar o endereço certo.
“Atendemos os casos mais graves do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, do Instituto de Oncologia Pediátrica, do Instituto da Criança e do Hospital Darcy Vargas. Pedimos a eles que selecionem as crianças e adolescentes mais pobres, que morem em regiões afastadas e que estejam com a saúde comprometida. É uma pena não podermos atender a todos, e ainda precisamos avaliar se o atendimento condiz com a nossa logística, não é nada fácil”, conta a presidente.
Tatiana diz que as peruas não têm adaptações, pois o perfil dos pacientes varia muito. Mas contam com vídeo, música, livros, revistas, brinquedos, travesseiros, cobertores, lençóis e sacos se alguém enjoar. A maior parte da criançada acaba dormindo. Os motoristas, bem treinados, trabalham com o coração, como Tatiana gosta de ressaltar. São atenciosos e sabem respeitar o silêncio, a dor de pais e filhos. “Gostaria de colocar alguém para contar histórias, e que também as ouvisse, mas é tão difícil encontrar voluntários com esse perfil. Isso nos ajudaria muito”, diz Tatiana.
A Ahpas conta com outro tipo de auxílio, de voluntários. A cada dia, a entidade recebe o reforço de um a seis carros que ajudam no transporte da molecada. Mais: não há patrocínio regular ou verba pública, mas colaboração de empresas como Sanofi-Aventis, Astra Zeneca, Eliana Company, Shopping Frei Caneca e o Centro de Voluntariado de São Paulo.
Wesley segue firme em sua jornada para vencer as limitações impostas pelo câncer, a bordo de uma das peruas. Já a família de Fernando mal sabe expressar a gratidão pelo trabalho da Ahpas. Com tratamento em fase bem mais branda, ele já não precisa mais dessa ajuda.
* Texto: Igor Thomaz/Fotos: Giuliano Siqueira
Revista Auto Esporte.
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