sexta-feira, 22 de julho de 2016

>>> RATÃO AMERICANO


Um Ford Fairlane station wagon 1959 em estilo bem peculiar

– Quando é que você vai pintar esse carro?
– Nunca!
A resposta do gerente comercial Sérgio Pescarolli à pergunta de um amigo vem rápida. Afinal, a pintura de seu Ford Fairlane station wagon quatro portas foi cuidadosamente desgastada, até que se alcançasse o efeito desejado pelo dono. E, sobre ela, aplicadas três demãos de verniz importado. Tudo para dar ao carro fabricado em 1959 a aparência de “largado”.


A relação de Pescarolli com o Fairlane foi de amor à primeira vista. O carro, segundo ele, estava encostado havia anos em uma garagem de hot rods esperando voltar à vida quando foi “descoberto”. “Eu vi o carro e fiquei louco”, diz. “Na hora, propus ao dono a troca por um Puma GTB 1980. Negócio fechado, entreguei um carro zerado e levei outro, no guincho, para a oficina de um amigo.”


Começava aí um processo peculiar de recuperação da máquina, que ainda conserva as placas amarelas do Estado do Rio de Janeiro. A primeira providência foi tapar alguns buracos provocados pela ferrugem, um deles no teto – sim, no teto! – próximo ao para-brisa. “Estancamos alguns ‘cânceres’”, define Pescarolli, referindo-se à ferrugem. “Na traseira, havia um buraco pelo qual dava para ver o chão. Depois, desbastamos as várias camadas de tinta e, quando chegamos ao ponto que consideramos ideal, aplicamos o verniz.”


Algumas partes, como o capô dianteiro e a tampa traseira, foram totalmente descascadas. As lentes dos quatro faróis foram pintadas de amarelo. O Fairlane de quatro portas ainda conserva os frisos originais e emblemas, algo surpreendente pelo estado em que se encontrava o carro. Na parte interna, volante, rádio e instrumentos do painel são originais.


Se a carroceria está “largada”, a mecânica funciona perfeitamente, diz o dono, e foi toda revisada. O motor Ford V8 292, de 188 cv, ronca alto. Como estava em bom estado, recebeu novos “periféricos”, como bombas, filtros, velas, cabos, correias e mangueiras. O câmbio manual de três velocidades estava em bom estado, segundo Pescarolli. A suspensão foi levemente rebaixada. A cereja do bolo são as rodas estilo palito, importadas, com o símbolo da Ford.


Como sempre acontece nesses casos, a personalização do carro desperta reações de amor e ódio. A linha Fairlane foi fabricada nos EUA entre 1955 e 1970. O carro é raro no Brasil. Até o nome escolhido pela Ford tem uma história. Fair Lane era o nome da fazenda de Henry Ford (1863-1947) e sua mulher, Clara Ford, em Dearborn, no Estado de Michigan.


Pescarolli diz que já recebeu propostas, mas ainda não encerrou a personalização e nem pensa em vender o “ratão” americano. “Já tive outros carros antigos, como Opala, Maverick, Dodge, Alfa Romeo, mas gosto mesmo desse”, diz “Em breve, devo trocar a forração dos bancos, que podem receber padrão jeans. E vou continuar mexendo.”

* Roberto Bascchera/Jornal do Carro.

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