quarta-feira, 19 de novembro de 2008

>>> HERÓIS DO PASSADO

Esta seção do KOMBI & CIA sempre é bem vista por aqueles que nos visitam diariamente. E não é para menos, pois quem não gosta de automóveis antigos bem conservados e à toda prova? Então, a homenageada de hoje só poderia ser ela, a nossa velha e querida KOMBI, através de reportagem publicada na Revista Quatro Rodas de Fevereiro de 2004, na seção "Grandes Brasileiros". Escrita por Sérgio Berezovski, com fotos de Marco De Bari, uma repassada na história deste grande (em todos os sentidos) veículo...
A Kombi é um caso inédito nesta seção. Pela primeira - e talvez única - vez, um carro ainda em produção é "personagem" de Grandes Brasileiros. Nada mais justo, no entanto. Afinal, a veterana de 47 anos foi um dos primeiros nacionais. Desde então, foram fabricadas 1 326 000 unidades da perua VW, como era chamada.


Por mais otimista que fosse, quem poderia prever uma vida tão longa a essa tataravó das minivans? Decerto não estaria na beleza de suas linhas a explicação para tamanha longevidade. Tampouco na estabilidade, prejudicada pela elevada altura do veículo, com o conseqüente centro de gravidade próximo do Himalaia. Segurança? Conforto?

Não é preciso ir tão longe. A resposta está logo ali, na esquina. Quem precisa transportar até 1 tonelada de carga sabe: em mais de meio século não inventaram nada com uma relação custo/benefício tão ou mais interessante que o da perua da VW, que justamente nasceu da necessidade de transporte barato na Alemanha do pós-guerra. Seu conceito não poderia ser mais funcional: uma caixa sobre rodas, com prioridade total para o espaço livre. Até o estepe foi encaixado no encosto do banco dianteiro para não roubar espaço.

Com toda essa vocação para o trabalho, contudo, nem seus criadores poderiam prever tamanho ecletismo. Quem diria que a Kombi fritaria pastel na feira com a mesma dignidade com que abrigava gabinetes médicos e odontológicos móveis? Até como casa ela já atuou: a Kombi-Turismo, algo mais para uma barraca de camping motorizada que propriamente um motor home, foi lançada aqui em 1960, numa fase em que a rede hoteleira nacional estava mais para ritmo de aventura. Não pegou, claro.

Mas nem sempre a Kombi teve perfil exclusivamente utilitário. No final dos anos 50 e começo dos 60, a escassez de opções fazia dela uma alternativa para o carro da família. Que o digam as mais numerosas, que tiravam partido de seus nove lugares e exibiam orgulhosas o modelo luxo, pintado em duas cores.

Essa versatilidade também justifica o fato de a Kombi ser tão dura de matar. Suas vendas, estabilizadas num nível de fazer corar modelos novos, impedem a fábrica de desativar a linha de montagem que desafia padrões de produtividade distantes dos ideais.

A Kombi foi o primeiro veículo a sair da fábrica da VW, inaugurada em 1953. Era apenas montada aqui, vinda em sistema CKD da Alemanha. Somente em 1957 ela deixou de ser naturalizada e ganhou certidão brasileira. Com motor de 1192 cm3 e 36 cavalos, refrigerado a ar - o célebre 1200 -, podia levar até 810 quilos de carga. Somados aos 1040 de seu próprio peso, obrigavam a primeira, do câmbio de quatro marchas, a fazer hora extra quando com carga total. Nas fotos, você vê um belo e raro exemplar 1959, igual à Kombi pioneira. Seu proprietário é Francisco Varca Júnior, um volksmaníaco que só tem elogios à posição de dirigir do utilitário. "Ela obriga o motorista a dirigir na posição correta", diz.

Pode ser, especialmente para quem não se incomoda com a posição horizontal da direção. Já o teste publicado na revista QUATRO RODAS de janeiro de 1963 não é tão complacente e classifica como sui generis a posição do motorista, que viaja sentado sobre o eixo dianteiro. Mas o texto não poupa elogios à funcionalidade do carro.

Alguns detalhes, como o trinco da porta dupla lateral - que exigia precisão de segredo de cofre para ser fechada - e a ventilação, com tomada de ar frontal sobre o pára-brisa e saída no teto da cabine, não agradaram: essa solução deixava água entrar junto com o ar, um problema nos dias de chuva. A reportagem registra os seguintes números de desempenho: 93 km/h de máxima e de 0 a 80 km/h levou 28 segundos. Essas marcas só foram melhorar com a adoção do motor 1500, com 52 cavalos, em 1967: 109 km/h de máxima e 0 a 80 em 21 segundos.

Com manutenção simples e barata, as Kombi não se aposentavam cedo e deixavam exposta uma falha de projeto: a convivência quase promíscua de mangueira e filtro de combustível com o distribuidor não raro provocava um incêndio, em caso de vazamento de gasolina ou mesmo de vapor.

De cara nova, com painel mais completo de três instrumentos e motor 1600, o mesmo do VW Brasilia, ela apareceu no final de 1975. A plástica não chegou a contemplar a Kombi com a sonhada porta corrediça, tal como no modelo Clipper alemão, por questões de custo. A solução só seria adotada no modelo 1997, versão que permanece atual.

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