Foi somente no início do século 19, que o homem começou a "viajar" no sentido moderno. Além das tribos errantes e nômades que surgiram com as guerras, cruzadas, fome e peste, viagens até aquela época haviam sido reservadas a uns poucos privilegiados. Nos séculos mais antigos, comerciantes e exploradores eram virtualmente os únicos indivíduos a se aventurar além de suas fronteiras nativas durante o curso de suas vidas...Hoje em dia, em contraste, entramos numa era, na qual viajar tornou-se popular, tanto a nível local como global. Entretanto, viajar tem-se desenvolvido diferentemente em diversas partes do mundo. Neste artigo examinaremos o crescimento do transporte de passageiros pela estrada até a extensiva rede de transportes de ônibus de hoje em dia. Nas nações européias desenvolvidas, foi estabelecido um serviço postal durante o século 17, sendo usadas carruagens puxadas a cavalos (normalmente a parelhas) para esta finalidade. Além do correio, as carruagens levavam alguns passageiros e uma pequena quantidade de bagagem, cobrindo longas distâncias em estradas que eram praticamente intransitáveis, especialmente com tempo ruim.
Naqueles dias viajar (em particular quando se tratava de longas viagens de carruagem), não era um empreendimento fácil. Viagens desta natureza podiam durar diversos dias, com paradas pernoite em estalagens ao longo do caminho, enquanto ladrões e animais selvagens estavam entre os perigos que espreitavam o viajante. Foi por estas razões que viajar não se tornou popular no tempo das carruagens.
Veio então a industrialização, uma evolução que se iniciou na Inglaterra na metade do século 18. A sociedade passou por modificações radicais, com diversos fatores interagindo e se combinando para formar o que hoje é conhecido como o “setor de transporte”. Entrementes, o crescimento da mecanização nas fábricas acenou para o princípio do fim do viajante profissional, que viajava às cidades e aldeias, oferecendo o seu trabalho.
Combinando alta capacidade com baixo custo unitário de produção, as novas fábricas agora tomaram esse lugar. Entretanto, uma vez que a mão de obra era o elemento mais móvel na cadeia de produção, esse desenvolvimento provocou modificações demográficas, à medida que as pessoas eram atraídas para os centros industriais onde havia emprego disponível, muitas vezes voluntariamente, mas também pela necessidade de garantir o seu futuro. Isso resultou em dramático crescimento da população urbana sueca, a primeira de uma série de tendências similares, à medida que o interior ficava cada vez menos habitado, a fim de servir a necessidade da industrialização.
A indústria rapidamente gerou uma demanda premente de transporte para o fornecimento de matéria prima e produtos para e das fábricas, muitas vezes usando os portos principais, que rapidamente iam surgindo na costa. O único meio de transporte para longas distâncias continuava sendo o marítimo, enquanto áreas servidas pelas vias fluviais também possuíam barcos para as operações de curta distância. Enquanto o transporte marítimo era relativamente demorado, ele oferecia um grande volume de carga, e tempo não era uma consideração maior em uma época, na qual o ritmo de vida era em geral mais lento.
E qual era, naquela época, a situação em terra firme?
O volume de transporte requerido pela indústria rapidamente ultrapassou a capacidade de cavalos e carretas, e foi a estrada de ferro que deu ao transporte terrestre o seu mais significativo impulso. A nação era ziguezagueada por vias férreas, à medida que a capacidade industrial se expandia.
Com o tempo, o transporte de passageiros também se tornou necessário em uma escala maior, à medida que as pessoas viajavam para e dos centros industriais, e entre os seus locais de trabalho e suas residências. A rede ferroviária recentemente desenvolvida obviamente fornecia os meios para satisfazer essa necessidade e viajar de trem rapidamente se tornou popular. A concorrência do trem ao tráfego de carruagens era muito forte e por fim tornou-se fatal – e o último serviço de carruagens na Suécia terminou em 1 de setembro de 1888.
Como o primeiro transporte de passageiros eficiente, as estradas de ferro anunciaram o advento das viagens populares de longo curso.
Sistemas de transporte público foram estabelecidos nas principais cidades européias, tais como Paris, Londres e Berlim nos anos de 1830 e 1840, e o ônibus de tração animal rapidamente tornou-se uma visão familiar de tráfego urbano. Se bem que experiências similares foram feitas em Estocolmo em 1835 e 1852, os resultados financeiros não foram encorajadores.
Ônibus movidos a vapor foram testados em Londres no mesmo período. Apesar de se ter esperanças desses novos veículos “de propulsão própria” serem mais versáteis do que os de tração animal, eles não tiveram grande sucesso. Não obstante esses novos veículos terem a vantagem de acabar com os dejetos animais nas estradas, eles também poluíam a atmosfera e faziam muito barulho, enquanto a sua confiabilidade era tudo menos satisfatória.
Querendo dizer “para todos”, a palavra ônibus vem do latim. O seu uso para descrever um meio de transporte público diz-se ter originado na cidade francesa de Nantes, onde um comerciante com o nome de Omnes pendurou uma placa nas carruagens de tração animal usadas para o transporte de pessoas nas ruas, incluindo a sua própria. A placa dizia “Omnes omnibus”, indicando que essa loja vendia mercadoria para todos. Entretanto, este termo logo se identificou com o veículo, significando uma forma de transporte que era adequada para todos.
Á medida que o ônibus de tração animal se tornou uma característica de vida urbana, obteve reconhecimento pelo seu conforto e confiabilidade. Mas os veículos sobre trilhos tinha também grandes vantagens, mesmo nos arredores da cidade, e sistemas de bondes foram implantados em diversas cidades européias durante os anos de 1870, incluindo Estocolmo(1877), Gothenburg(1879) e Malmö(1877). Em Estocolmo, pelo menos, o ônibus provou ser incapaz de competir e foi rapidamente substituído pelo bonde. Apesar de ainda ser a fonte de energia, o cavalo iria logo ser substituído pelo motor elétrico.
Experiências com ônibus auto-propulsionados foram reativadas em Londres por volta de 1890 e um ônibus elétrico apareceu nas ruas da cidade em 1891. Este foi seguido, em 1897, por um veículo a vapor queimando óleo e, em 1898, pelo primeiro ônibus acionado por um motor de combustão interna. Dois ônibus motorizados de dois andares foram introduzidos por volta do fim do século; o número aumentou para 13 em 1903 e não menos que 1000 em 1908.
O primeiro ônibus a motor a ser usado em Estocolmo foi um Daimler, cujas rodas de madeira, calçadas de ferro, faziam muito barulho sobre as ruas de paralelepípedos em Drottninggatan em 1899. O veículo, porém, foi tirado de serviço após somente oito dias, devido ao terrível barulho que fazia (se ele teria sido mais silencioso sobre uma superfície diferente é uma questão para especulações). Foi somente em 1923 que ônibus a motor foram novamente usados nas ruas da capital.
Estocolmo permanecia dependente do transporte de tração animal, enquanto o sistema de bondes foi eletrificado (1901-1905); poder-se-ia ter a impressão que os bondes iriam prevalecer sobre os ônibus na Suécia.
Os desenvolvimentos iriam mostrar o contrário. Já em 1901, a Vagnfabriks – Aktiebolaget i Södertelge (VABIS), recebeu um pedido para fornecer uns sete ou oito ônibus à Stockholmes Allmänna Omnibusaktiebolag. Era, porém, um pouco cedo para ônibus a motor e a companhia em dado momento teve que se decidir por veículos de tração animal.
Nos primeiros anos deste século, fabricantes de diversos países começaram a sentir o potencial do carro a motor. A influência da carruagem de tração animal era ainda muito evidente nos veículos, tanto que os ônibus a motor daquela época muito se pareciam com os seus precursores de tração animal.
Com o tempo, os veículos eram construídos sob encomenda para aplicações específicas – carros confortáveis para pessoas abastadas, caminhões para o transporte de mercadoria e mesmo carros de corrida para os que procuravam aventura.
* matéria publicada na revista Milbus-Assessoria em Ônibus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário